
Pressão dos EUA para Suavizar Resolução da ONU sobre a Ucrânia Causa Cisão com Aliados Europeus
A Jogada Arriscada de Washington na ONU Racha o Apoio à Ucrânia
NAÇÕES UNIDAS, Nova York — Dentro dos salões de mármore das Nações Unidas, uma tensão paira como um tambor de fundo. Uma tempestade diplomática está se formando, uma que pode rachar as bases da unidade ocidental em relação à Ucrânia. A missão dos Estados Unidos surpreendeu seus aliados ao pressionar pela remoção de dois dos princípios fundamentais da resolução anual da Assembleia Geral sobre a Ucrânia: a condenação da "agressão" russa e a afirmação da "integridade territorial" da Ucrânia.
Vários diplomatas confirmam que a proposta de Washington não é apenas uma edição de rotina — é uma mudança fundamental. A linguagem sugerida redefiniria a guerra sob um rótulo neutro, chamando-a simplesmente de "a guerra na Ucrânia". Para muitas nações europeias, isso soa como apagar a clareza moral que guiou sua postura desde 2022. Nos bastidores, eles estão correndo para impedir isso.
Para a Ucrânia, a notícia atingiu como um soco no estômago. O Kyiv Post resumiu o sentimento sem rodeios: "Este é mais um exemplo de Washington se desviando dos interesses centrais da Ucrânia em um momento diplomático crucial." Pelos ministérios de Kyiv e pelos corredores da ONU, essa sensação de traição é palpável. A luta não é mais apenas sobre território — é sobre a própria linguagem que define o certo e o errado no direito internacional.
O “Caso de Negociações”: A Mudança Calculada de Washington
Este movimento não é um acaso de política ou um capricho repentino. Faz parte de uma estratégia mais ampla que vem se desenhando há meses. Em fevereiro de 2025, um confronto semelhante surgiu na ONU — o que parecia um impasse único, agora se assemelha mais a um teste. A abordagem atual de Washington oficializa: os EUA querem mudar o enquadramento da Ucrânia na ONU de um "caso baseado em regras" para um "caso de negociações".
A diferença é enorme. Um caso baseado em regras é preto no branco. Um país quebra a lei, o outro defende sua soberania, e o mundo se alinha com a justiça. Esse arcabouço exige responsabilização, reparações e clareza moral — uma base sobre a qual o Ocidente se apoia desde a invasão russa.
Um caso de negociações, no entanto, borra essas linhas. Ele trata a guerra como uma disputa que precisa ser gerenciada, não um crime que exige punição. Remover "agressão" do texto abre uma saída diplomática para Moscou, sinalizando que o compromisso pode importar mais do que a condenação.
Para Washington, isso é realismo frio. Oficiais dos EUA sabem que o público está cansado, o campo de batalha está estagnado e as prioridades estão mudando em direção a outros desafios globais. O argumento é o seguinte: a linguagem atual da ONU complica a diplomacia, criando uma "guerra de palavras" que torna a paz mais difícil de alcançar. Ao suavizar o tom, os EUA esperam desencadear progresso em questões tangíveis — como o desbloqueio de ativos congelados para a reconstrução da Ucrânia — sem rediscutir a culpa toda vez.
A mensagem não poderia ser mais clara: Washington está se movendo do absolutismo moral para o pragmatismo estratégico. A era do apoio incondicional deu lugar a uma de resultados gerenciados e negociações discretas.
A Batalha Árdua da Europa para Proteger a Carta da ONU
Essa mudança americana deixa a Europa em terreno solitário. Diplomatas da UE tornaram-se subitamente os guardiões dos valores centrais da Carta da ONU — os princípios de soberania e não-agressão que antes uniam a aliança transatlântica.
Bruxelas está lutando com unhas e dentes para impedir as deleções. Diplomatas estão fazendo lobby junto à missão dos EUA, alertando que a remoção dessas cláusulas tiraria o fio moral da resolução e sinalizaria fraqueza para o resto do mundo. O argumento deles se baseia no Artigo 2(4) da Carta, que proíbe o uso da força contra a integridade territorial ou independência política de outra nação. Abandonar essa linguagem, dizem, praticamente legitimaria a conquista e abriria uma porta perigosa para futuros agressores.
A luta coloca a UE em uma posição difícil. Para Washington, os europeus agora parecem idealistas teimosos apegados a velhos dogmas. Para Kyiv, eles são os únicos que restaram segurando a linha moral. É um papel desgastante para desempenhar — especialmente quando as necessidades da Ucrânia, tanto militares quanto financeiras, continuam crescendo. Cada vez que os EUA suavizam seu tom, a Europa deve falar mais alto para defender o que resta da ordem baseada em regras. É como segurar a muralha de uma fortaleza enquanto a fundação continua mudando.
Do Pilar Moral à Moeda de Troca
É fácil desconsiderar as resoluções da ONU como simbólicas, mas elas carregam um peso real. Elas definem a legitimidade, moldam as sanções e sustentam as reivindicações legais para futuras reparações ou julgamentos por crimes de guerra. Para a Ucrânia, essas votações anuais foram um escudo moral e uma espada legal, tudo em um só.
Se Washington conseguir o que quer e a "integridade territorial" se tornar apenas a "posição da Ucrânia", esse escudo racha. O poder de barganha de Kyiv em quaisquer futuras negociações cairá dramaticamente. E se o membro mais poderoso da ONU não nomear a Rússia como agressora, os argumentos para redirecionar ativos russos congelados para a reconstrução da Ucrânia de repente soam menos convincentes. Moscou, sem surpresa, já está usando isso para provar que o Ocidente está se dividindo. Manchetes da mídia estatal alardeiam sobre a fadiga ocidental e a unidade em declínio.
As consequências se estendem além da Ucrânia. Para líderes autoritários em outros lugares, este momento soa como um sinal verde — um sinal de que fronteiras tomadas pela força podem ser normalizadas se você esperar tempo suficiente.
O que está desaparecendo agora é a superioridade moral do Ocidente. Em seu lugar, surge uma diplomacia mais fria e dura — onde os princípios se dobram ao peso da negociação, e a justiça se torna uma moeda de troca. O mundo está observando de perto, perguntando-se o quanto da ordem do pós-guerra sobreviverá à próxima rodada de compromissos.