UBS sofre prejuízo de meio bilhão com falência da First Brands que expõe apostas em financiamento da cadeia de suprimentos
A gigante bancária suíça se vê no centro de uma confusão de US$ 500 milhões, levantando novas dúvidas sobre os riscos ocultos no financiamento de comércio.
O UBS enfrenta perdas de mais de meio bilhão de dólares após o colapso do First Brands Group, o conglomerado de autopeças que pediu recuperação judicial em 28 de setembro, com mais de US$ 11 bilhões em passivos. O credor suíço, através de várias de suas unidades de investimento, é o maior credor sem garantia – e, ao mesmo tempo, participante do pacote de financiamento emergencial da empresa. Essa combinação mostra o quão profundamente o banco se envolveu em uma das maiores falhas de financiamento da cadeia de suprimentos desde a implosão da Greensill.
Documentos judiciais revelam um cenário complicado: créditos sem garantia, empréstimos garantidos, garantias disputadas e sussurros de fraude. Juízes e credores agora enfrentam a árdua tarefa de descobrir quem realmente possui o quê, e quanto, em uma estrutura de capital que se assemelha mais a uma teia de aranha do que a um balanço patrimonial.
Você sabia: A gigante de autopeças First Brands entrou em recuperação judicial (Chapter 11) com aproximadamente US$ 6,1 bilhões em dívida no balanço patrimonial mais bilhões em financiamento da cadeia de suprimentos e factoring fora do balanço, levando a uma investigação sobre possível dupla-financiamento. Ainda assim, os tribunais aprovaram um financiamento DIP (Debtor-in-Possession) de US$ 1,1 bilhão (com US$ 500 milhões imediatos) para manter as operações funcionando e limitar choques de suprimentos – deixando as maiores perdas para fundos de crédito privado, SCF/factoring, CLOs e alguns BDCs, mas com agências de rating considerando o impacto no mercado mais amplo como contido.

Uma dor de cabeça em três frentes
A exposição do UBS não está contida em uma única categoria. Ela se estende por três unidades de negócios diferentes.
- Sua unidade de fundos de hedge, Hedge Fund Solutions, lidera a lista com aproximadamente US$ 233,7 milhões em créditos sem garantia. Esses valores foram adiantados contra faturas de clientes da First Brands – créditos agora posicionados atrás de uma muralha de credores concorrentes e potenciais alegações de fraude.
- A O’Connor, braço de fundos de hedge do UBS em breve a ser vendido para a Cantor Fitzgerald, tem cerca de US$ 116 milhões comprometidos. Um de seus fundos teria dedicado quase um terço de seu portfólio a recebíveis relacionados à First Brands. Esse nível de concentração agora parece imprudente.
- Finalmente, a UBS Asset Management possui mais de US$ 160 milhões em empréstimos garantidos e uma linha de crédito vinculada à First Brands, além de uma parte do financiamento de US$ 1,1 bilhão para devedor em posse (DIP) aprovado pelo tribunal de falências. Embora essas posições garantidas e de DIP ofereçam tratamento prioritário, elas não compensam totalmente as iminentes perdas sem garantia.
Em outras palavras, o banco está lutando em várias frentes simultaneamente.
Dupla negociação com faturas
No cerne deste colapso está uma pergunta incômoda: a First Brands vendeu as mesmas faturas para mais de um credor? Investigações internas apontam para uma “discrepância de vários bilhões de dólares” em seu programa de factoring. Se essas suspeitas se confirmarem, muitos credores que acreditavam ter créditos garantidos podem ver seu status reduzido a sem garantia – forçados a dividir as sobras com todos os outros.
O juiz que supervisiona a recuperação judicial já sinalizou a questão durante as audiências do DIP. A Onset Financial, outra credora, contestou o empréstimo de resgate, alegando que seus direitos de garantia estavam sendo desrespeitados. O tribunal permitiu um saque inicial de US$ 500 milhões, mas reservou a decisão sobre o restante. Por enquanto, é um jogo de espera.
Para os fundos sem garantia do UBS, o resultado pode ser brutal. Em casos passados de fraude em financiamento de comércio, os investidores recuperaram apenas centavos por dólar. O colapso da Greensill ainda está fresco na memória – onde os créditos de “venda verdadeira” se revelaram tudo, menos isso.
Uma multidão de credores lesados
O UBS não está sozinho nesta confusão. CIT Group, Wafra, Pemberton Capital, Orbian e Fasanara Capital estão todos listados como credores com exposições que variam de dezenas de milhões a centenas. Um registro misterioso mostra uma “Trade Finance Company” com um crédito de US$ 208 milhões, embora a empresa do Reino Unido com esse nome negue envolvimento, adicionando mais um elemento à história.
As obrigações de empréstimos garantidos (CLOs) também estão sentindo o efeito cascata. Cerca de 70 gestores de CLOs dos EUA detêm empréstimos da First Brands, embora a exposição seja pequena em uma base por operação. Ainda assim, soma quase US$ 2 bilhões em todo o sistema.
Enquanto isso, a plataforma fintech Raistone, um ator chave no financiamento da First Brands, enfrenta sua própria crise. Documentos judiciais vinculam a empresa a mais de US$ 600 milhões em créditos de credores. Ela já cortou empregos à medida que as pressões de liquidez aumentam – um lembrete de que, quando os dominós caem no financiamento de comércio, os intermediários frequentemente também caem.
Como pode ser a recuperação
Ninguém sabe ainda quanto os credores recuperarão. Mas os cenários estão começando a tomar forma.
- Pior cenário: dupla-financiamento generalizado confirmado, "clawbacks" (recuperação de valores) acionados. Créditos sem garantia poderiam recuperar menos de 10 centavos por dólar. Empréstimos garantidos poderiam ver de 50 a 70 centavos após as taxas.
- Cenário intermediário: sobreposição limitada, acordos negociados. Credores sem garantia poderiam recuperar 10-25 centavos, enquanto credores garantidos recuperam mais perto do valor nominal.
- Melhor cenário: fraude mínima, ativos vendidos competitivamente. Recuperações sobem para cerca de 40 centavos para créditos sem garantia.
Analistas dizem que o resultado intermediário parece o mais plausível no momento. Isso significa que o UBS poderia limitar suas perdas em todo o grupo, mas o impacto reputacional será mais difícil de conter.
Lições para o mercado
Para os investidores, a aposta mais segura é o financiamento DIP. Ele confere status de superprioridade, taxas substanciais e monitoramento rigoroso das garantias. Empréstimos garantidos também podem atrair compradores de pechinchas assim que a poeira baixar. Mas os créditos sem garantia de financiamento de comércio? Analistas alertam que são tóxicos até que a integridade da fatura seja comprovada.
Para os acionistas do UBS, os números não são catastróficos. Mesmo que o banco perdesse os US$ 500 milhões completos, isso não ameaçaria sua base de capital. O maior problema é a percepção. Esta é a segunda vez em apenas alguns anos que o UBS é ligado a um escândalo de financiamento de comércio. Reguladores e clientes vão querer saber como os controles de risco permitiram uma exposição tão concentrada a um único tomador de empréstimo.
A venda pendente da O’Connor para a Cantor Fitzgerald também parece complicada agora. Ajustes de preço ou indenizações são quase certos, embora o acordo em si seja improvável de desmoronar.
O que vem a seguir
O tribunal ainda precisa aprovar a tranche restante de US$ 600 milhões do financiamento DIP, e sua decisão enviará um forte sinal sobre como os créditos concorrentes se posicionam. Quaisquer descobertas do examinador sobre a escala da dupla garantia redefinirão as expectativas de recuperação da noite para o dia. E a disputa de prioridade levantada pela Onset Financial poderá remodelar como os proventos serão divididos.
Para o mundo mais amplo do financiamento da cadeia de suprimentos, a First Brands é mais uma história de advertência – uma que ecoa a Greensill. Ela mostra o quão frágil o sistema pode ser quando os credores depositam muita fé em recebíveis opacos. Mais escrutínio regulatório parece inevitável.
Quanto ao UBS, o dinheiro perdido pode ser gerenciável, mas as perguntas que enfrenta são mais difíceis. Como meio bilhão de dólares foi parar em uma única empresa em dificuldades através de múltiplas estratégias de fundos? E por que os sistemas de risco tão elogiados do banco não detectaram isso a tempo? Essas respostas levarão meses, mas o dano à sua reputação já está presente.
Tese de Investimento da Casa
| Categoria | Resumo |
|---|---|
| Evento e Problema Central | Pedido de Recuperação Judicial da First Brands (28-30 de setembro de 2025) com >US$ 11 bilhões em passivos. O problema central é um potencial dupla garantia/mistura de recebíveis no estilo Greensill, criando uma discrepância de vários bilhões de dólares. Isso subordina créditos sem garantia de financiamento da cadeia de suprimentos (SCF). |
| Exposição Principal | O Complexo UBS é o nome mais exposto: UBS Hedge Fund Solutions (~US$ 234 milhões sem garantia), O'Connor (~US$ 116 milhões sem garantia), UBS Asset Management (>US$ 160 milhões garantidos + parte do DIP de US$ 1,1 bilhão). Exposição total do grupo >US$ 500 milhões. |
| Outros Credores | Outros sem garantia/SCF: 1977 O'Connor, CIT/First Citizens, Wafra, Pemberton, Orbian, LiquidX/Fasanara (~US$ 71 milhões). CLOs têm exposição pequena e granular (~0,5% por operação). A Raistone é uma intermediária criticamente exposta com alto risco de contraparte. |
| Matemática da Recuperação (Estimativa) | A recuperação depende da escala da dupla garantia. Cenário Base: SCF sem garantia 10-25%, Garantido 70-85%, DIP valor nominal + taxas. Cenário Pessimista (se a dupla-financiamento for comprovada): SCF sem garantia 0-10%. O DIP é o ativo com melhor risco-retorno ajustado. |
| Risco Sistêmico e Reputacional | O risco sistêmico é limitado (impacto dos CLOs imaterial). O risco reputacional é alto, especialmente para o UBS (déjà vu de Greensill) e fintechs de financiamento de comércio como a Raistone. |
| Dinâmicas e Catalisadores Chave | Disputa de prioridade entre DIP, ABL e o crédito de estoque da Onset Financial. O que observar: Decisões judiciais sobre a tranche restante de US$ 600 milhões do DIP, descobertas do examinador sobre a dupla garantia, disputa de garantia entre Onset e a massa falida, e liquidez da Raistone. |
| Ideias de Negociação Acionáveis | 1. Participar do DIP (superprioridade). 2. Comprar empréstimos a prazo garantidos em picos de pânico. 3. Evitar/vender a descoberto créditos de SCF sem garantia. 4. Vender proteção CDS do UBS em picos impulsionados por notícias. 5. Subponderar plataformas SCF com risco concentrado (ex: Raistone). |
| Conclusão | Possua o DIP, negocie o garantido, evite o sem garantia. Use a volatilidade das notícias do UBS, não a tema – é uma questão reputacional, não de solvência. Espere um processo confuso com recuperações de SCF sem garantia tendendo a porcentagens baixas. |
Decisões de investimento sempre envolvem risco. O desempenho passado não é garantia de resultados futuros.
