
Trump Firma Acordos Comerciais Assimétricos com Filipinas e Indonésia Antes do Prazo de Agosto
A Manobra de Donald Trump no Sudeste Asiático: Os Custos Ocultos da Nova Alavancagem Comercial dos EUA
O sol castiga o extenso porto de Jacarta enquanto estivadores carregam contêineres destinados aos EUA. A partir da próxima semana, cada um carregará um fardo invisível: uma tarifa de 19% que representa o novo preço de entrada no mercado consumidor americano.
O Presidente Donald Trump, empunhando tarifas como peças de xadrez, garantiu o que a Casa Branca chama de acordos comerciais "históricos" com as Filipinas e a Indonésia esta semana, dias antes do seu prazo autoimposto de 1º de agosto para a implementação de um regime tarifário abrangente. Os acordos geraram repercussões nos mercados globais e reescreveram as regras para duas das maiores economias do Sudeste Asiático.
"Zero ou Dezenove": O Novo Ultimato Americano
Os acordos seguem um modelo notavelmente similar: ambas as nações do Sudeste Asiático eliminarão virtualmente todas as tarifas sobre produtos americanos, enquanto enfrentarão uma alíquota fixa de 19% sobre tudo o que enviarem para os Estados Unidos.
"Garantimos acesso total ao mercado", declarou Trump do Salão Oval na terça-feira, ladeado pelo Secretário do Tesouro e por funcionários comerciais. "Chega de acordos unilaterais onde levamos a pior. É reciprocidade, pura e simples."
Mas especialistas em comércio veem algo mais complexo – e potencialmente mais disruptivo – nas entrelinhas.
"Isso não é reciprocidade no sentido tradicional", diz a Dra. Amanda Chen, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics. "É um jogo de poder fundamental que alavanca o acesso ao mercado contra concessões estratégicas. As Filipinas e a Indonésia exportam muito mais para os EUA do que importam, dando a Washington uma alavancagem enorme."
Os números contam a história. Em 2024, as exportações dos EUA para a Indonésia totalizaram apenas US$ 10,2 bilhões, enquanto as importações atingiram US$ 28,1 bilhões. Com as Filipinas, as exportações americanas foram de US$ 9,2 bilhões contra US$ 14,2 bilhões em importações.
Além das Tarifas: O Tabuleiro Estratégico
Para o Presidente filipino Ferdinand Marcos Jr., as negociações envolveram cálculos delicados que se estendem muito além das balanças comerciais.
"Manila vê isso como a compra de um seguro", explica o ex-diplomata americano Richard Fontaine, agora no Center for Strategic and International Studies. "O governo filipino está, na prática, trocando concessões econômicas por garantias de segurança mais fortes no Mar da China Meridional, onde embarcações chinesas se tornaram cada vez mais assertivas."
Um alto funcionário comercial filipino, falando sob condição de anonimato por não estar autorizado a discutir negociações sensíveis, confirmou este cálculo: "Entendemos os custos econômicos, mas estamos operando em uma região onde as parcerias de segurança têm valor real. Às vezes, é preciso fazer escolhas difíceis."
O acordo indonésio revela ainda mais sobre a estratégia de Trump. Além de eliminar tarifas, Jacarta se comprometeu a compras em grande escala de aeronaves Boeing, gás natural liquefeito americano e produtos agrícolas — acordos potencialmente no valor de dezenas de bilhões de dólares.
Mais significativamente, a Indonésia concordou em fornecer minerais críticos aos Estados Unidos em termos preferenciais, com uma ressalva crucial: materiais que contenham mais de 25% de componentes de origem chinesa poderiam enfrentar taxas de até 40%.
"Isso é sobre cadeias de suprimentos de baterias, pura e simplesmente", diz Michael Sullivan, estrategista-chefe de commodities do Morgan Stanley. "A Indonésia controla cerca de 42% do mercado global de níquel, crucial para as baterias de veículos elétricos. Ao garantir acesso preferencial enquanto penaliza materiais processados na China, os EUA estão, na prática, inserindo-se em uma cadeia de suprimentos que a China dominou."
O Efeito Dominó da ASEAN
O que acontece em Manila e Jacarta pode não ficar por lá. Representantes comerciais do Vietnã, Malásia e Tailândia estariam se apressando para avaliar suas posições à medida que o prazo de 1º de agosto se aproxima.
"Esses países agora enfrentam uma escolha difícil", diz a ex-Representante Comercial dos EUA, Susan Schwartz. "Ou aceitam termos unilaterais semelhantes ou correm o risco de enfrentar toda a força do regime tarifário de Trump — potencialmente até 32% para nações sem acordos."
A pressão se estende além das tarifas. Autoridades do Vietnã, que surgiu como uma importante alternativa de manufatura à China, relatam uma vigilância aduaneira intensificada dos EUA, incluindo inspeções de fábricas destinadas a impedir que mercadorias chinesas sejam redirecionadas através das cadeias de suprimentos do Sudeste Asiático.
"O que estamos testemunhando é a fragmentação ativa da integração econômica do Leste Asiático", diz o Dr. Kishore Mahbubani, ex-diplomata de Cingapura e reitor da Lee Kuan Yew School of Public Policy. "Os países estão sendo forçados a escolher lados de maneiras que minam décadas de cuidadoso equilíbrio."
O Cálculo de Pequim
A China respondeu com contenção calculada até agora, embora as autoridades tenham alertado sobre possíveis "contramedidas" caso os interesses chineses sejam diretamente ameaçados. As disposições sobre minerais críticos, que visam explicitamente a capacidade de processamento chinesa, podem se mostrar o ponto de conflito mais sensível.
"Pequim entende que um confronto direto não beneficia ninguém", diz Zhang Wei, professor de economia na Universidade de Pequim. "Mas há preocupações reais sobre as tentativas dos EUA de transformar cadeias de suprimentos em armas e fragmentar a arquitetura comercial regional que a China cultivou cuidadosamente através de iniciativas como a RCEP."
Alguns analistas veem o potencial para respostas chinesas mais sutis, incluindo regimes de inspeção mais rigorosos para produtos americanos que entram pela 'porta dos fundos' dos mercados do Sudeste Asiático isentos de tarifas.
Implicações para Investimentos: Três Cenários
Para investidores navegando neste cenário em mudança, estrategistas delineiam três cenários potenciais para o próximo ano:
No cenário base (60% de probabilidade), as tarifas entram em vigor conforme anunciado em 1º de agosto, com os parceiros do Sudeste Asiático, em grande parte, cumprindo, apesar de alguns atrasos na implementação. Este cenário favorece