
Enquanto Washington se Desentende, a Dívida de US$ 38 Trilhões da América Começa a se Manifestar
A Contagem Silenciosa: Enquanto Washington Briga, a Dívida de US$ 38 Trilhões dos EUA Começa a Falar
WASHINGTON – Os monumentos permanecem em silêncio. O governo, preso em sua terceira semana de paralisação, está paralisado pela guerra partidária. No entanto, nas profundezas do Tesouro dos EUA, uma única máquina funciona sem parar. Seus números digitais sobem, indiferentes à política, à emoção ou às consequências. Em 21 de outubro, enquanto o Congresso trocava acusações como crianças passando bilhetes, essa máquina marcou um momento que deveria fazer todo americano refletir.
Os Estados Unidos acabam de ultrapassar US$ 38 trilhões em dívida nacional bruta.
Esse número assombroso, oculto no relatório diário do Tesouro Debt to the Penny (Dívida ao Centavo), não é apenas mais uma estatística. É um reflexo de décadas de decisões — de crises resolvidas com dinheiro emprestado, de cortes de impostos não acompanhados por cortes de gastos, de promessas feitas a idosos que superam em muito os impostos arrecadados para financiá-las.
Agora, a marcha outrora silenciosa da dívida começa a fazer barulho. Você pode ouvi-lo no quase US$ 1 trilhão que a nação paga anualmente em juros — dinheiro que não compra nada além de tempo. Você pode senti-lo no peso que cada cidadão carrega em silêncio: mais de US$ 110.000 da conta nacional por pessoa. E você pode vê-lo nos mercados, onde investidores estão exigindo retornos mais altos para emprestar a um país em que antes confiavam sem questionar.
O ritmo dessa escalada é impressionante. A dívida ultrapassou US$ 37 trilhões apenas em agosto. Em apenas dois meses, o país adicionou outro trilhão. “Esse ritmo acelerado”, alertou a Fundação Peter G. Peterson em 22 de outubro, “destaca como os custos de juros estão devorando o orçamento.”
As razões por trás do aumento são tão emaranhadas quanto a política que as cerca. Os reflexos do auxílio pandêmico ainda reverberam nos gastos federais. Os cortes de impostos de 2017 — recentemente estendidos na “Lei Grande e Bela” de julho — continuam a reduzir as receitas do governo. Enquanto isso, novos gastos com guerras na Ucrânia e em Israel adicionam bilhões a mais. Mas o verdadeiro acelerador é a guerra do Federal Reserve contra a inflação. Taxas de juros mais altas podem arrefecer os preços, mas também inflacionam o custo dos empréstimos do próprio governo, transformando um problema de longo prazo em uma emergência de curto prazo.
Enquanto o relógio da dívida gira, Washington permanece congelada. A paralisação do governo — desencadeada por mais uma votação fracassada de financiamento — tornou-se uma metáfora perfeita para a paralisia fiscal dos EUA.
“Os hábitos de gastos de Washington são insustentáveis. Os EUA merecem coisa melhor”, disse a Deputada Laurel Lee (R-FL), culpando os democratas pelo impasse. O Deputado Keith Self (R-TX) foi além: “O Congresso deve PARAR de gastar dinheiro que não temos antes que o declínio gradual se transforme em um colapso repentino.”
Os democratas rebatem que os cortes de impostos esvaziaram a receita e que os gastos sociais apenas preenchem as lacunas deixadas por décadas de subinvestimento. As trocas partidárias voam, mas um consenso silencioso está se formando entre os economistas: as contas não fecham mais.
“Os EUA estão quebrando lentamente”, alertou David Kelly, estrategista veterano do J.P. Morgan. O Presidente do Comitê de Orçamento da Câmara, Jodey Arrington (R-TX), também não mediu palavras: “A dívida nacional é a próxima grande guerra dos Estados Unidos. Se a perdermos, perdemos a liderança dos EUA.”
Essa “guerra” está sendo travada em duas arenas. Primeiro, dentro do próprio orçamento federal. O Escritório de Orçamento do Congresso prevê que os pagamentos de juros em breve superarão os gastos com defesa. Até 2026, o pagamento de juros pode custar tanto quanto o Medicare. Os legisladores podem em breve enfrentar uma escolha sombria entre apoiar os idosos, defender a nação ou satisfazer os credores.
O segundo campo de batalha está em Wall Street. Por gerações, os títulos do Tesouro dos EUA foram a aposta mais segura do mundo. Mas a dívida de US$ 38 trilhões, juntamente com a paralisação em curso, está abalando essa fé. Os investidores agora precificam o que chamam de “prêmio de prazo estrutural mais alto” — essencialmente uma sobretaxa de risco permanente para emprestar aos EUA.
Isso soa técnico, mas o impacto é real. Quando os EUA pagam mais para tomar emprestado, todos os outros também o fazem. As taxas de hipoteca sobem, pequenas empresas pagam juros mais altos e o crescimento econômico desacelera. É como um imposto sobre o futuro — uma consequência de vivermos acima de nossas possibilidades.
Se este caminho continuar, os números se tornam sombrios rapidamente. O CBO projeta US$ 48 trilhões em dívida até 2030, e mais de 150% do produto econômico total até meados do século. Economistas alertam para a “dominância fiscal”, um ponto em que o Federal Reserve pode ser forçado a manter as taxas baixas apenas para que o governo possa pagar suas contas — arriscando uma nova onda de inflação. É assim que outras nações deslizaram da prosperidade para a crise.
Online, a frustração se transformou em humor sombrio. Memes zombam da situação com um humor ácido: “Preparem-se. Isso é coisa de fim de império”, dizia uma postagem viral no X.
Ainda assim, nem tudo é condenação e inevitabilidade. Especialistas, do Fundo Monetário Internacional ao Bipartisan Policy Center, delinearam maneiras de estancar a sangria — misturas de contenção de gastos e aumentos de impostos que poderiam estabilizar a dívida. O problema? Toda opção é veneno político. Exigiria o tipo de coragem bipartidária que Washington parece ter extraviado.
Enquanto a paralisação se arrasta, o Tesouro prepara seu próximo grande leilão de dívida em 3 de novembro. Investidores globais sintonizarão, analisando não apenas os números, mas a mensagem: Os EUA ainda são o tomador de empréstimos mais seguro da Terra? O veredito deles não virá em discursos ou manchetes — chegará silenciosamente, medido em taxas de juros e índices de propostas.
Enquanto isso, nas entranhas do Tesouro, aquela máquina implacável continua a subir. Ela conta não apenas dólares, mas o custo da demora, um bilhão de cada vez. O silêncio se foi agora. A dívida está falando — e está dizendo que o tempo está acabando.
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