
Tribunal Suíço Anula Perda Total para Detentores de Obrigações do Credit Suisse, Expondo Falhas no Plano de Crise
Tribunal Suíço Anula Cancelamento de Títulos de Detentores de Bônus do Credit Suisse, Expondo Falhas no Manual de Crise
Tribunal Administrativo Federal revoga baixa contábil de CHF 16,5 bilhões em títulos AT1, ameaçando o UBS com acordo multibilionário e forçando a reescrita da estrutura de resolução bancária da Suíça
ZURIQUE — O Tribunal Administrativo Federal da Suíça causou um choque nos mercados financeiros europeus hoje ao anular a decisão de 2023 que cancelou CHF 16,5 bilhões em títulos Additional Tier 1 (AT1) do Credit Suisse durante a aquisição de emergência pelo UBS.
Essa decisão afeta aproximadamente 3.000 investidores em 360 casos consolidados. Embora o tribunal não tenha ordenado uma compensação imediata, ele desmantelou a lógica jurídica usada pelos reguladores quando anularam os títulos dos detentores de bônus, mas protegeram os acionistas – invertendo a ordem usual de perdas e provocando uma reação global durante o caos bancário do ano passado.
Quando a Liquidez Encontrou Limites Legais
O tribunal abordou diretamente uma tensão há muito debatida: a diferença entre uma crise de liquidez e uma verdadeira insolvência. Em 19 de março de 2023, quando a FINMA ordenou a baixa contábil, o Credit Suisse ainda atendia aos requisitos de capital. O Banco Nacional Suíço e o governo intervieram para ajudar a gerenciar uma corrida bancária – não um colapso de solvência.
Essa distinção derrubou o argumento da FINMA. Os acordos dos títulos AT1 permitiam baixas contábeis apenas em caso de deterioração do capital, e não por apoio de liquidez. O tribunal adotou o que os advogados chamam de "interpretação baseada na confiança": se o contrato diz que os gatilhos são de capital, os reguladores não podem substituí-los por gatilhos de liquidez, não importa quão severa seja a crise.
Pior para o governo, o tribunal decidiu que a Ordenança de Emergência usada para autorizar o cancelamento era inconstitucional. Ela violava as regras para poderes de emergência segundo os Artigos 184 e 185 da Constituição Suíça, feria direitos de propriedade e tentou delegar autoridade de expropriação sem um mandato legal adequado.
O Preço da Improvisação
Os mercados não perderam tempo para se ajustar. As ações do UBS caíram à medida que analistas começaram a considerar os possíveis custos de um acordo. Estimativas sugerem que o UBS pode absorver um impacto de CHF 2,2 a 3,2 bilhões em termos de valor presente, caso os detentores de bônus recuperem de 17% a 26% do valor de face através de um acordo ou de novas ações judiciais.
A história mostra que governos raramente pagam o valor integral após intervenções de emergência. O UBS também contabilizou algumas perdas ao adquirir o Credit Suisse, o que pode suavizar o golpe. A pressão política pode levar o UBS e o governo suíço a compartilhar os custos, embora não exista uma indenização formal.
Investidores institucionais que detêm títulos AT1 em dificuldades já tomaram nota. A decisão fortalece sua posição legal, embora a solução exata – reintegração ou indenização por danos – permaneça indefinida e possa ir para o Supremo Tribunal Federal (Suíço).
Acerto de Contas Regulatório à Frente
Para os formuladores de políticas suíços, esta decisão exige uma grande reforma jurídica. Ao contrário do manual de resolução da UE pós-2008 – com regras e gatilhos claros de "bail-in" –, a Suíça entrou no resgate do Credit Suisse sem um arcabouço detalhado.
Agora, os legisladores devem revisar a Lei Bancária e a Lei de Supervisão do Mercado Financeiro com definições claras e procedimentos explícitos: o que conta como capital regulatório versus apoio de liquidez, quando os AT1s podem ser baixados, como as hierarquias de credores devem ser respeitadas e quais limites se aplicam aos decretos de emergência quando os direitos de propriedade estão em jogo.
Os legisladores enfrentam um delicado equilíbrio. A resposta à crise exige rapidez, mas os tribunais exigem legalidade. A mensagem é clara: poderes de emergência não são cheques em branco. Se os reguladores desejam ferramentas que se assemelham à expropriação, devem codificá-las em lei antes da próxima crise – e não inventá-las no meio de uma.
Reprecificação do Mercado em Andamento
Os mercados já estão reescrevendo as regras. Títulos AT1 emitidos sob a lei suíça agora carregam um prêmio de incerteza jurídica. Os investidores exigirão rendimentos mais altos até que a lei proporcione clareza, provavelmente criando uma divisão entre os AT1s suíços e aqueles emitidos sob os regimes de resolução mais definidos da UE.
Os bancos estão respondendo rapidamente. Equipes jurídicas estão revisando documentos de bônus, vinculando gatilhos diretamente a métricas de solvência em vez de discricionariedade regulatória. Alguns emissores podem até mudar para uma lei estrangeira aplicável para escapar da ambiguidade suíça.
Olhando para fora, os investidores se perguntam se esta decisão é um caso isolado suíço ou o início de desafios mais amplos aos "bail-ins" regulatórios. A insistência do tribunal na precisão contratual e na autoridade legal pode inspirar casos semelhantes em outros países onde os processos de crise ainda não foram testados.
Implicações para Investimento: Navegue na Névoa
Profissionais que avaliam o risco de portfólio devem observar atentamente vários desenvolvimentos.
A exposição do UBS merece atenção. O banco é financeiramente sólido e integrou as operações do Credit Suisse, mas litígios criam incerteza nos lucros. Analistas esperam que qualquer acordo se estenda por anos e possivelmente utilize instrumentos subordinados em vez de dinheiro puro, aliviando a pressão sobre o capital. A história sugere que os mercados muitas vezes reagem exageradamente aos riscos legais, oferecendo pontos de entrada atraentes quando a poeira baixa – mas cada episódio é único.
Bancos suíços ainda possuem fundamentos sólidos, mas o risco legal e político pode agora pesar sobre as avaliações. Diferenças de spread entre instrumentos de capital de bancos suíços e europeus podem abrir oportunidades de valor relativo à medida que os investidores reavaliam o risco.
O mercado mais amplo de AT1 pode favorecer emissores não suíços no curto prazo. Bancos europeus operando sob a Diretiva de Recuperação e Resolução Bancária (BRRD) claramente definida poderiam se beneficiar de fluxos de entrada. Os mercados frequentemente corrigem excessivamente após choques legais, potencialmente preparando operações de reversão assim que as reformas suíças tomarem forma – embora o timing permaneça ambíguo.
A própria clareza regulatória pode se tornar uma vantagem competitiva. Bancos com capital forte e linguagem de gatilho transparente podem ver suporte na avaliação. Aqueles que dependem de estruturas vagas ou discricionárias podem enfrentar custos de refinanciamento mais altos.
Estas visões de investimento refletem a análise de mercado atual e padrões históricos. Não constituem aconselhamento financeiro. Investidores devem realizar suas próprias pesquisas ou consultar profissionais antes de tomar decisões.
O Que Está Por Vir
Especialistas jurídicos esperam um recurso ao Supremo Tribunal Federal (Suíço), embora acreditem que a decisão central provavelmente será mantida, possivelmente com refinamentos. Mesmo assim, resolver a questão da solução pode levar anos, prolongando a incerteza para o UBS e o estado suíço.
A política importará tanto quanto a lei. Com milhares de reclamantes, desde investidores de varejo a fundos globais, a Suíça deve equilibrar as prioridades domésticas com sua reputação internacional como um centro financeiro confiável. O caso agora simboliza mais do que um único cancelamento – ele testa a identidade da Suíça como um centro bancário ancorado tanto na estabilidade quanto no estado de direito.
Por enquanto, a decisão do tribunal serve como um lembrete caro: a improvisação em crises não substitui uma arquitetura legal clara. No setor bancário, assim como no montanhismo, você prende as cordas antes da tempestade – não enquanto já está caindo.