
Tribunal de Paris Condena TotalEnergies por ‘Ecobranqueamento’ em Sentença Climática Pioneira
Tribunal de Paris Condena TotalEnergies por ‘Greenwashing’ em Decisão Climática Histórica
Gigante francesa do petróleo é obrigada a remover alegações enganosas de “neutralidade de carbono” em veredito que pode abalar a indústria global de combustíveis fósseis.
PARIS — Um tribunal de Paris gerou ondas de choque no setor global de energia na quarta-feira, ao considerar a TotalEnergies culpada de enganar os consumidores sobre suas promessas climáticas. Os juízes determinaram que o marketing verde reluzente da gigante francesa do petróleo — repleto de turbinas eólicas, painéis solares e conversas sobre um futuro "neutro em carbono" — cruzou a linha da decepção. A empresa agora tem um mês para remover essas alegações de seu site ou enfrentar multas diárias de até € 20.000.
Pela primeira vez na história, uma grande empresa de petróleo e gás foi legalmente responsabilizada por mascarar sua imagem como ambientalmente responsável, enquanto seus negócios ainda dependem principalmente de combustíveis fósseis. Grupos ambientalistas celebraram o veredito como um divisor de águas. "Esta é a primeira vez no mundo que uma grande empresa de petróleo e gás é considerada culpada por enganar o público ao 'esverdear' sua imagem", disse a Friends of the Earth France, uma das três organizações por trás do processo, ao lado da Greenpeace France e Notre Affaire à Tous.
O tribunal concedeu a cada grupo € 8.000 em indenizações, mais um total de € 15.000 para cobrir despesas legais. Esse valor mal arranha uma empresa cuja receita anual excede € 200 bilhões. Ainda assim, ativistas e especialistas jurídicos afirmam que o verdadeiro impacto não está no dinheiro, mas no precedente: as corporações não podem mais se esconder atrás de slogans de marketing que prometem a salvação climática sem entregá-la.
A TotalEnergies ainda não comentou publicamente o veredito.
Uma Lacuna Entre Palavras e Realidade
O caso centrou-se na vistosa reformulação da marca da empresa em 2021 — de "Total" para "TotalEnergies" — e sua grandiosa alegação de se tornar "um ator importante na transição energética". A empresa prometeu atingir emissões líquidas zero até 2050. Mas o tribunal analisou mais de perto e encontrou uma lacuna gritante entre suas promessas e suas práticas.
Enquanto a empresa se gabava de investimentos em energia renovável, esses projetos representavam apenas uma pequena fatia de suas operações. A maior parte de seus lucros ainda provém da extração de petróleo e gás — e esse lado do negócio está crescendo, não diminuindo.
Os juízes decidiram que a TotalEnergies enganou os consumidores ao falar sobre neutralidade de carbono sem esclarecer sua forte dependência de combustíveis fósseis, a própria causa das mudanças climáticas. De acordo com a lei francesa, tal comportamento se qualifica como uma "prática comercial enganosa". O tribunal concluiu que a comunicação da empresa poderia facilmente distorcer a compreensão do consumidor sobre seu desempenho ambiental real.
Embora os juízes tenham rejeitado as queixas sobre as alegações da TotalEnergies em relação ao gás fóssil e aos biocombustíveis, eles traçaram uma linha nítida na narrativa abrangente de "neutralidade de carbono" da empresa. Isso, disse o tribunal, era pura ilusão.
Uma Repressão Europeia Mais Ampla
Esta decisão não acontece isoladamente. Em toda a Europa, reguladores e tribunais estão apertando o cerco contra o 'greenwashing' corporativo. Companhias aéreas como KLM e Lufthansa já foram criticadas por fazerem alegações duvidosas sobre "voos sustentáveis".
Mas o caso da França contra a TotalEnergies vai além. Ele mira o próprio produtor de combustíveis fósseis — a fonte da poluição que outras indústrias tentam compensar. "Este é um enorme passo para a responsabilização climática", disse ClientEarth, uma organização beneficente jurídica que apoiou o caso. "Os anúncios de #greenwashing da gigante de combustíveis fósseis TotalEnergies foram considerados ilegais."
A decisão também poderá dar nova vida à paralisada "Diretiva de Alegações Verdes" da UE, uma lei projetada para padronizar as regras e penalidades de marketing ambiental em todo o bloco. Até que isso aconteça, tribunais nacionais como o de Paris estão agindo, usando leis de proteção ao consumidor para controlar narrativas corporativas enganosas.
E os efeitos cascata não param por aqui. Analistas da indústria alertam que outras gigantes do petróleo — Shell, BP e Eni, entre elas — agora enfrentam o risco de "litígios de copiar e colar". Muitas dessas empresas construíram suas marcas em torno de slogans semelhantes de "emissões líquidas zero". Agora, elas podem ter que reescrever suas promessas com dados concretos e letras miúdas, ou arriscar um acerto de contas semelhante nos tribunais.
Enquanto isso, a TotalEnergies não está fora de perigo. Uma investigação criminal separada sobre a mesma campanha publicitária ainda está em andamento em Nanterre, e esse caso poderá trazer penalidades muito mais severas.
Um Ponto de Virada para o Discurso Climático Corporativo
Esta decisão chega em um momento crítico. O mundo está ficando sem tempo para conter os piores impactos das mudanças climáticas, e a paciência do público com promessas vazias está se esgotando. Ao traçar uma linha clara entre aspiração e engano, o tribunal de Paris forçou um dos maiores poluidores do mundo a encarar as consequências.
Em termos simples, os juízes disseram às corporações em todo o lugar: se você fala sobre o clima, é melhor agir. Promessas vazias não serão mais suficientes.
Por décadas, as empresas de petróleo poliram sua imagem com tons verdes e retórica esperançosa. Agora, com este veredito histórico, essa era pode estar desaparecendo rapidamente. A mensagem não poderia ser mais clara — não venda sonhos de um futuro mais limpo a menos que esteja pronto para prová-los.
NÃO É UM CONSELHO DE INVESTIMENTO