Uma História de Duas Redes: Como um Acordo de US$ 2,6 Bilhões em Ohio Expõe a Divisão Energética dos EUA
COLUMBUS, Ohio – Para 335 mil famílias e empresas em todo o Ohio, o nome impresso em suas contas de gás está prestes a mudar. O que parece uma simples troca de logotipo esconde uma mudança sísmica por baixo da superfície — uma aposta de US$ 2,62 bilhões que expõe um país dividido entre dois futuros energéticos muito diferentes.
Antes do nascer do sol de terça-feira, a National Fuel Gas Company, uma empresa de 123 anos sediada em Williamsville, Nova York, anunciou planos para comprar toda a concessionária de gás natural da CenterPoint Energy em Ohio. No papel, é uma transação comercial rotineira. Na realidade, é uma história sobre capital em movimento — dinheiro fluindo de um estado que avança agressivamente em direção à energia limpa para outro que está abrindo suas portas para os combustíveis fósseis.
A National Fuel, cansada de lutar contra ventos contrários regulatórios em Nova York, está apostando tudo no gás natural. Seu CEO, David P. Bauer, elogiou Ohio como “altamente favorável”, “propício” e “construtivo” para a infraestrutura de gás — um claro aceno a um clima de negócios mais amigável.
O acordo avalia a concessionária de Ohio em cerca de 1,6 vezes o valor de sua infraestrutura. Uma vez concluído, dobrará instantaneamente a base de clientes regulados da National Fuel. A empresa, outrora parte exploradora e parte concessionária, se transformará em uma potência estável e regulada, menos exposta a grandes flutuações de mercado.
“Isso é arbitragem clássica de fusões e aquisições (M&A) impulsionada pela política estadual”, escreveu um analista de investimentos em um memorando privado. “A National Fuel está trocando as ‘dores de cabeça verdes’ de Nova York pelo ‘aperto de mão industrial’ de Ohio.”
Mas não é apenas a política em jogo. O motor por trás dessa mudança vibra com o apetite implacável da era digital. O centro de Ohio, agora apelidado de “Silicon Heartland”, está se enchendo de enormes centros de dados de gigantes da tecnologia como Meta e Google. Esses gigantes digitais devoram eletricidade, colocando uma enorme pressão sobre a rede.
É claro que a principal demanda é elétrica — mas quando a energia renovável falha, é o gás natural que mantém os servidores funcionando e as luzes acesas. A National Fuel está apostando alto que a crescente fome de energia de Ohio transformará seus novos gasodutos em uma mina de ouro.
Enquanto isso, a CenterPoint Energy, sediada em Houston, vê as coisas de forma diferente. Para eles, esta venda é sobre otimização. As operações em Ohio vieram de sua aquisição da Vectren em 2018, mas nunca se encaixaram perfeitamente em sua área de atuação. Agora, a CenterPoint planeja usar os lucros para financiar um projeto de capital massivo de US$ 65 bilhões focado em sua região central — fortalecendo a rede elétrica no Texas, um estado ainda assombrado por brutais tempestades de inverno e apagões.
Em suma, a CenterPoint está trocando a receita estável de gás de Ohio pelo futuro de alta voltagem do Texas. A National Fuel está fazendo o inverso, comprando a estabilidade que não consegue encontrar em casa com os lucros de seus empreendimentos de perfuração nos Apalaches.
Wall Street reagiu de forma previsível. As ações da National Fuel caíram cerca de 3% na manhã de terça-feira, à medida que os investidores se preocupavam com novas dívidas e ações adicionais. As ações da CenterPoint subiram ligeiramente — recompensadas por estreitar o foco e sanear seu balanço.
Para os cerca de 200 funcionários da CenterPoint em Ohio, a venda traz tanto oportunidade quanto inquietação. A National Fuel diz que planeja manter a “força de trabalho talentosa”, mas seus novos chefes estarão a cerca de 483 quilômetros de distância, em outro estado.
O acordo agora segue para a Comissão de Serviços Públicos de Ohio (PUCO), que decidirá se a nova propriedade beneficia os clientes. A National Fuel promete manter um serviço confiável e acessível. No entanto, a PUCO já demonstrou sua força antes — em junho passado, forçou a Enbridge Gas Ohio a cortar tarifas. Mesmo em um estado pró-gás, os reguladores estão sentindo a pressão dos consumidores que observam cada centavo.
“A narrativa de que ‘Ohio é fácil’ está desatualizada”, observou um analista de mercado. “Você pode crescer aqui, mas espere que cada dólar seja questionado.”
A transação não está prevista para ser concluída antes do final de 2026, deixando bastante tempo para ventos políticos contrários ou turbulências regulatórias. Ainda assim, ela captura um momento decisivo na história energética da América: uma empresa fugindo do futuro da energia limpa, outra correndo em direção a um presente movido a gás.
Em algum lugar nos subúrbios de Dayton ou Toledo, um proprietário em breve enviará um cheque para a National Fuel em vez da CenterPoint. Eles podem não notar a mudança. Mas por trás desse pequeno ato reside uma jornada de bilhões — dinheiro cruzando fronteiras estaduais em protesto silencioso, preso entre duas visões do futuro energético da América.
