Meituan Compromete US$ 1 Bilhão ao Mercado Brasileiro de Delivery de Alimentos Enquanto Gigantes Chineses de Tecnologia Miram a América Latina

Por
Xiaoling Qian
7 min de leitura

A Jogada Brasileira de US$ 1 Bilhão da Meituan: Gigante Chinesa de Entrega de Comida Desafia o Status Quo na América Latina

Em uma sala de conferências reluzente em Pequim ontem, duas figuras representando mundos muito diferentes apertaram as mãos em um acordo que pode remodelar a economia digital da América Latina. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, em uma rara visita oficial à China, estava ao lado de Wang Xing, o recluso bilionário fundador da Meituan, enquanto ambos testemunhavam a assinatura de um acordo de investimento de US$ 1 bilhão que trará a entrega de comida no estilo chinês para a maior economia da América do Sul.

Durante a cerimônia de assinatura, o raramente visto fundador da Meituan, Wang Xing, enfatizou o tremendo potencial de mercado do Brasil. Ele detalhou a estratégia de três pontos da Keeta: melhorar a experiência do cliente, impulsionar o crescimento dos restaurantes parceiros e gerar oportunidades significativas de emprego local.

O investimento marca o movimento internacional mais ousado da Meituan até agora e sinaliza uma mudança significativa na estratégia de expansão tecnológica da China — de uma exploração cautelosa para uma entrada no mercado confiante e com alto investimento de capital.

Aplicativo Meituan (thebeijinger.com)
Aplicativo Meituan (thebeijinger.com)

O Campo de Batalha Brasileiro

Sob sua marca internacional "Keeta", a Meituan planeja implementar uma rede nacional de entrega instantânea em todo o complexo cenário urbano do Brasil — das ruas densas de São Paulo aos bairros nas encostas do Rio de Janeiro. A jogada coloca o gigante chinês diretamente contra a iFood, a líder estabelecida apoiada pela Prosus que atualmente domina aproximadamente 80% do mercado brasileiro de entrega de comida de R$ 139 bilhões (cerca de US$ 28 bilhões) em 2023.

Para a Meituan, que opera uma das maiores plataformas de entrega de comida do mundo na China, com mais de 690 milhões de usuários ativos, o Brasil representa o campo de teste perfeito para suas ambições globais. Apesar do tamanho significativo do mercado — que atingiu 139 bilhões de reais em 2023 — apenas cerca de 30% dos brasileiros usam atualmente serviços de entrega de comida, comparado a mais de 50% na China.

"O que estamos vendo é a exportação do modelo maduro de entrega de comida da China para mercados com padrões de urbanização semelhantes, mas com penetração digital significativamente menor", explicou Maria, uma analista de tecnologia latino-americana. "O potencial inexplorado aqui é enorme."

A Meituan tem se preparado silenciosamente para esta jogada há anos. Registros da empresa mostram que ela registrou sua marca brasileira já em março de 2020, mas intensificou sua abordagem este ano com negociações com parceiros logísticos locais e trabalho em estruturas de conformidade tributária.

Um Avanço Chinês em Duas Frentes

A Meituan não está se aventurando no Brasil sozinha. Apenas algumas semanas antes, a gigante chinesa de transporte por aplicativo Didi anunciou a revitalização de seu serviço de entrega de comida no Brasil sob a marca "99 Food", integrando-o com a infraestrutura local de transporte por aplicativo e pagamentos. A entrada quase simultânea de duas potências tecnológicas chinesas sugere um impulso coordenado para a economia digital da América Latina.

"As plataformas chinesas saturaram efetivamente seus mercados domésticos e estão enfrentando intenso escrutínio regulatório em casa", disse Paulo, professor de economia. "O Brasil oferece a elas tanto margem regulatória quanto um dividendo demográfico que é cada vez mais raro em economias asiáticas envelhecendo."

Para a Meituan, o Brasil representa apenas o passo mais recente em uma expansão global cuidadosamente orquestrada. A Keeta já opera em Hong Kong há dois anos, onde afirma ter dobrado as vendas de restaurantes parceiros. Desde setembro de 2024, também estabeleceu operações em grandes cidades da Arábia Saudita, relatando crescimento constante tanto em usuários quanto em pedidos.

A Vantagem Competitiva

Para desafiar o domínio da iFood, a Meituan está trazendo sua destreza tecnológica e recursos financeiros abundantes. Fontes próximas à empresa revelam que a Keeta planeja diferenciar-se através de taxas de comissão significativamente mais baixas para restaurantes — entre 10-20% em comparação com a média de 25% da iFood — ao mesmo tempo que subsidia as taxas de entrega para os consumidores.

Ricardo, que possui três restaurantes no sofisticado bairro dos Jardins, em São Paulo, está cautelosamente otimista. "Se eles realmente conseguirem cumprir com essas taxas de comissão mantendo a qualidade do serviço, muitos donos de restaurante ficarão ansiosos para diversificar além da iFood", disse ele.

A Meituan já estabeleceu sede no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo, um hub de tecnologia que abriga inúmeras startups e empresas multinacionais de tecnologia. A empresa também está finalizando parcerias com bancos digitais para simplificar a integração com o PIX, o sistema de pagamento instantâneo do Brasil que revolucionou as transações eletrônicas em todo o país.

A Keeta planeja recrutar 50.000 entregadores em seu primeiro ano de operação — uma medida que pode impactar significativamente a economia gig do Brasil, que cresceu durante a reestruturação econômica pós-pandemia.

"Estudamos extensivamente as complexidades logísticas das cidades brasileiras", disse um executivo da Meituan. "Nosso sistema de despacho baseado em IA foi especificamente adaptado para levar em conta fatores como os padrões de tráfego de São Paulo e a topografia única do Rio."

Além da Entrega: As Apostas Estratégicas

Para investidores profissionais observando este desenvolvimento, o movimento da Meituan representa mais do que apenas outra opção de entrega de comida para os consumidores brasileiros. Sinaliza um pivô estratégico da China em direção à expansão do setor de serviços em regiões onde a influência tecnológica americana historicamente dominou.

"O que estamos vendo é a exportação da infraestrutura digital da China — não apenas aplicativos, mas ecossistemas completos de pagamentos, logística e serviços para comerciantes", explicou Carlos, sócio sênior em um fundo de VC (Venture Capital) líder, especializado em investimentos em tecnologia na América Latina. "A verdadeira criação de valor acontecerá nesses pontos de interseção."

O timing é particularmente notável. O plano "Nova Indústria Brasil" oferece incentivos fiscais para empresas que investem em infraestrutura logística moderna, enquanto o Presidente Lula cortejou abertamente investimentos chineses como parte de sua estratégia de revitalização econômica.

Para a China, o Brasil serve como uma porta de entrada ideal para uma expansão mais ampla na América Latina. O sucesso ali poderia fornecer um plano para entrada em mercados vizinhos como Argentina, Colômbia e Chile.

"Se a Meituan conseguir fazer isso funcionar no Brasil — com seu complexo sistema tributário, logística desafiadora e concorrência estabelecida — eles podem fazer funcionar em quase qualquer lugar na América Latina", disse Carlos.

Riscos e Desafios

Apesar de seu poder financeiro e vantagens tecnológicas, a Meituan enfrenta obstáculos significativos. O complexo ambiente regulatório do Brasil, a moeda sujeita à inflação e as preferências distintas do consumidor apresentam desafios operacionais.

As regulamentações trabalhistas podem se mostrar particularmente espinhosas. Enquanto a economia gig da China opera com relativamente poucas restrições, o Brasil tem visto uma pressão crescente para formalizar o status de emprego dos entregadores, potencialmente minando o modelo flexível e de baixo custo que impulsiona as plataformas de entrega de comida.

"Os tribunais trabalhistas brasileiros têm sido cada vez mais simpáticos às reivindicações dos entregadores por reconhecimento de vínculo empregatício", observou Júlia, especialista em direito trabalhista no Rio de Janeiro. "Qualquer empresa que entre neste espaço precisa fatorar potenciais mudanças regulatórias em seu modelo de negócios."

Os custos de aquisição de clientes também são aproximadamente 40% maiores no Brasil do que na China, segundo estimativas da indústria, enquanto o dinheiro ainda representa cerca de 25% dos pagamentos em algumas regiões — uma diferença marcante dos centros urbanos quase sem dinheiro da China.

Além disso, a iFood não entregará participação de mercado sem lutar. A empresa possui recursos financeiros abundantes graças ao apoio da Prosus e já começou a melhorar seus serviços de suporte a restaurantes e incentivos para entregadores em antecipação ao aumento da concorrência.

O Quadro Geral: A Rota da Seda Digital da China

A empreitada brasileira da Meituan é apenas uma peça de um padrão maior de expansão tecnológica chinesa em mercados em desenvolvimento. Nos últimos meses, a Tencent Cloud abriu seu primeiro centro de dados brasileiro, a ByteDance (empresa controladora do TikTok) está considerando um projeto massivo de centro de dados movido a energia eólica no porto de Pecém, no Brasil, e a Alibaba Cloud lançou operações no México.

Essa expansão digital complementa os investimentos estabelecidos da China em infraestrutura física na América Latina, criando o que alguns analistas chamam de abordagem de "espectro completo" para influência econômica.

"Estamos testemunhando a dimensão digital da Iniciativa Cinturão e Rota global da China", explicou Jennifer, analista de risco geopolítico. "Enquanto projetos de infraestrutura tradicionais como portos e ferrovias continuam, essas plataformas digitais representam uma forma de integração econômica mais sutil, mas potencialmente mais transformadora."

Para Wang Xing e a Meituan, o Brasil representa não apenas um novo mercado, mas um teste crucial de suas ambições globais. Como ele disse aos presentes na cerimônia de assinatura: "A internacionalização é uma das estratégias de longo prazo da Meituan. Continuaremos trabalhando duro para expandir para mercados estrangeiros e criar novas oportunidades de crescimento."

Com US$ 1 bilhão em jogo e uma batalha competitiva se aproximando, as apostas não poderiam ser maiores. Para consumidores, restaurantes e entregadores do Brasil, a entrada de outro competidor com recursos financeiros abundantes promete tanto oportunidades quanto disrupção. Para investidores e observadores de mercado, oferece um lugar na primeira fila para uma das expansões mais importantes da influência tecnológica chinesa no Hemisfério Ocidental.

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