
Keurig Dr Pepper obteve um investimento de US$ 7 bilhões da Apollo e da KKR para resolver problemas de dívida e estabilizar sua fusão de café de US$ 18 bilhões.
O Negócio de US$ 18 Bilhões: A Aposta Audaciosa da Keurig Dr Pepper para Vencer a Guerra do Café e Acalmar os Nervos de Wall Street
NOVA YORK – 27 de outubro de 2025 – Nos recantos silenciosos do mundo corporativo americano, onde grandes negócios de bilhões de dólares ganham forma, a Keurig Dr Pepper acabou de realizar um movimento que parecia mais uma cirurgia de campo de batalha do que uma estratégia de diretoria. Enfrentando investidores furiosos e bilhões em valor de mercado evaporado, a gigante das bebidas não apenas defendeu seu plano de US$ 18 bilhões para comprar a gigante do café JDE Peet’s — ela rasgou o livro de regras antigo no meio do caminho e construiu um novo, com a ajuda de dois dos mais poderosos e implacáveis figurões de Wall Street.
Em um Dia do Investidor tenso, mas cuidadosamente coreografado, a KDP lançou um resgate de US$ 7 bilhões coliderado pela Apollo Global Management e KKR. Não era um empréstimo bancário comum — era engenharia financeira com estilo, projetada para corrigir um problema gritante: a dívida esmagadora que ameaçava afundar todo o negócio. Investidores vinham gritando há meses que a ambição da KDP superava sua capacidade. Hoje, a empresa finalmente mostrou que estava ouvindo.
No fundo, este pivô audacioso visa resgatar uma das transformações corporativas mais intrincadas no setor de bens de consumo modernos. O plano? Engolir a JDE Peet’s — lar de marcas como Jacobs, L’OR e Tassimo — e, então, em um ato impressionante de cisão corporativa, dividir-se em duas empresas públicas até o final de 2026: uma “Global Coffee Co.” e uma “Beverage Co.” mais enxuta, focada em refrigerantes e sucos na América do Norte.
“Já criamos valor antes, e faremos isso de novo”, disse o CEO Tim Cofer aos investidores, misturando confiança com humildade. “Ouvimos suas preocupações e estamos agindo decisivamente.”
Os investidores tinham bons motivos para reclamar. Quando a KDP anunciou pela primeira vez a aquisição da JDE Peet’s em 25 de agosto, o mercado recuou. O negócio teria dobrado a dívida da KDP para impressionantes US$ 36 bilhões — seis vezes seus lucros anuais. As ações despencaram para o menor nível em quatro anos no início de outubro, enquanto analistas criticavam ferozmente a “estrutura confusa” e o altíssimo risco de execução. A reformulação de hoje é a resposta da KDP a esse feedback contundente.
Uma Linha de Resgate Financeiro, Reimaginada
O pacote de US$ 7 bilhões da Apollo e da KKR é mais do que um resgate — é uma aula magna de finanças criativas. Em vez de acumular mais dívida em uma era de taxas de juros crescentes, a KDP transformou parceiros em co-construtores.
Primeiro, a Apollo e a KKR aportarão US$ 4 bilhões em uma joint venture que fabrica cápsulas K-Cup e outros produtos de dose única. A KDP manterá o controle, mas transferirá bilhões em despesas de seus próprios balanços. O acordo garante um custo de capital de cerca de 7,3% — muito mais barato do que os 9% de juros que uma dívida regular exigiria.
Em seguida, vem o investimento de US$ 3 bilhões em ações preferenciais conversíveis. Ele rende um dividendo de 4,75% e pode ser convertido em ações a US$ 37,25 cada — um prêmio considerável de 41% sobre os preços recentes. Isso significa menos diluição para os acionistas atuais e um sinal de que a Apollo e a KKR genuinamente acreditam no futuro da empresa.
O impacto é imediato. A KDP agora espera que a alavancagem líquida caia para 4,6x até meados de 2026, de 5,6x. Ainda é alta, mas não mais alarmante. As agências de classificação de risco podem respirar novamente, e os investidores veem uma empresa disposta a se adaptar em vez de entrar em colapso.
Jamshid Ehsani e Matt Nord, da Apollo, chamaram-na de uma “solução de capital abrangente” apoiada por “profunda convicção”. Em bom português, eles estão apostando alto que a cisão da KDP trará resultados — e eles querem um assento na primeira fila quando isso acontecer.
A Grande Aposta: Preparando uma Gigante Global do Café
Por trás de toda a análise numérica esconde-se uma grande visão. Ao combinar o domínio do café da Keurig na América do Norte com o alcance global da JDE Peet’s, a KDP quer criar um império do café que rivalize com a Nestlé. Juntas, elas controlariam mais de 20% dos principais mercados e poderiam inserir as marcas premium da JDE, como L’OR, na enorme rede de dose única da Keurig.
Então vem a reviravolta ousada — dividir a empresa fundida em duas. É um movimento clássico para destravar o que os investidores chamam de “desconto de conglomerado”. Atualmente, a KDP é negociada a aproximadamente 11 vezes os lucros — uma mistura de seu negócio estável de refrigerantes e sua divisão de café de rápido crescimento. A cisão poderia mudar isso. Se a “Global Coffee Co.” gerar múltiplos semelhantes aos da Nestlé (15-18x) e a “Beverage Co.” se aproximar dos múltiplos da Coca-Cola (12-14x), o valor total da KDP poderia subir 20-30%. A administração até espera que o negócio impulsione os lucros em 10% no seu primeiro ano.
Ainda assim, nem tudo será um mar de rosas. Desvendar um negócio tão grande vem com seu próprio conjunto de desafios — sistemas duplicados, choques culturais e mudanças na liderança. Roger Johnson, recém-nomeado Diretor de Transformação e Cadeia de Suprimentos, liderará o esforço.
Em um movimento mais discreto, mas revelador, o CFO Sudhanshu Priyadarshi — que antes seria cotado para liderar a futura Coffee Co. — não está mais na disputa pelo cargo. O conselho iniciou uma busca externa, sinalizando que nem todas as partes do plano antigo sobreviveram ao escrutínio dos investidores.
Wall Street Exala (Mas Ainda Não Comemora)
Quando a notícia do novo financiamento foi divulgada, as ações da KDP subiram no pré-mercado. Um alívio se espalhou pelas mesas de negociação e pelas notas de analistas. Ninguém estava chamando de triunfo, mas a maioria concordou que a empresa havia se recuperado da beira do precipício.
Um trader brincou online: “A KDP recorre ao private equity… porque nada diz ‘crescimento constante’ como a magia da Apollo e da KKR.” Por trás do humor reside uma dura verdade — esses investidores trazem estabilidade, mas também esperam resultados. Sua presença no conselho, incluindo o novo diretor Brian Driscoll, significa que a pressão para cortar custos e entregar resultados só aumentará.
Se o negócio for bem-sucedido, a KDP poderá remodelar o cenário global do café. Ela estaria ombro a ombro com a Nestlé internacionalmente, enquanto sua divisão de bebidas na América do Norte mira mais de perto a Coca-Cola e a PepsiCo. O movimento também destaca uma nova tendência corporativa — empresas de private equity não mais invadindo para assumir o controle, mas fazendo parceria com empresas públicas para impulsionar transformações de alto risco.
Para Tim Cofer e sua equipe, o próximo ano será um ato de equilibrismo. Cada marco — desde aprovações regulatórias na Europa até a nomeação de um novo CEO para a Coffee Co. — testará a paciência dos investidores. A empresa ganhou tempo, credibilidade e uma segunda chance. Mas é só isso — uma chance.
Porque, no final das contas, a KDP não está apenas tentando construir um negócio maior. Ela está tentando provar que pode transformar duas operações complexas e endividadas em vencedoras globais e eficientes. O mercado pode estar mais calmo agora, mas ninguém está apostando seu café da manhã em uma vitória fácil. A verdadeira preparação apenas começou.