Julius Baer Enfrenta Novas Perdas Imobiliárias Enquanto Batalha por Credibilidade se Intensifica
Uma manhã fria em Zurique traz novos problemas para uma das instituições bancárias mais tradicionais da Suíça. O Julius Baer Group Ltd., ainda se recuperando da sombra do colapso imobiliário da Signa que abalou a empresa em 2023, divulgou hoje que espera registrar outra provisão substancial para perdas com crédito de aproximadamente 130 milhões de francos suíços (US$ 156 milhões) relacionada a empreendimentos imobiliários alemães problemáticos.
O anúncio marca mais um revés nos esforços do gestor de patrimônio para reabilitar tanto seu balanço patrimonial quanto sua reputação após a exposição catastrófica à Signa, que forçou uma mudança na liderança e uma revisão estratégica há pouco mais de um ano.
Resumo do Colapso do Grupo Signa e Seu Impacto Bancário – eventos chave, repercussões financeiras e respostas institucionais nos setores imobiliário e bancário
Categoria | Detalhes |
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Colapso do Grupo Signa | Declarou insolvência em nov/2023 com dívidas superiores a € 10 bilhões |
Avaliação de Ativos | Valor de liquidação estimado em ~€ 314 milhões |
Processos Legais | Múltiplas insolvências, investigações criminais por fraude e ocultação de ativos |
Pessoas Chave | Fundador René Benko preso, sob investigação |
Exposição Julius Baer | CHF 606 milhões em exposição a dívida privada de entidades Signa |
Perdas Bancárias | Prejuízos líquidos de CHF 586–606 milhões; saída completa do crédito privado |
Mudanças de Liderança | CEO Philipp Rickenbacher renunciou; Stefan Bollinger nomeado sucessor |
Ação Regulatória | Procedimentos de fiscalização da FINMA por falhas na supervisão de riscos |
Implicações Setoriais | Levantou preocupações com risco no setor bancário suíço e mercados de crédito privado |
Liquidação de Ativos | Vendas em andamento (ex: Vienna Park Hyatt, ações da KaDeWe) para pagar credores |
"Este último encargo por imparidade sugere que, embora o Julius Baer tenha agido agressivamente para conter sua exposição a dívida privada, as repercussões de suas falhas anteriores na gestão de riscos continuam a se fazer sentir na organização", observou um analista bancário sênior de uma grande instituição de investimento europeia, falando sob condição de anonimato devido a relações com clientes.
Os Erros no Setor Imobiliário Alemão Gerando Novas Perdas
No centro do novo impacto financeiro estão dois empreendimentos imobiliários comerciais na Alemanha que o Julius Baer ajudou a financiar entre 2021 e 2022, de acordo com a declaração do banco. O principal contribuinte é um projeto de redesenvolvimento de uso misto em Hanôver que entrou em Zwangsverwaltung – administração forçada por gestores nomeados pelo tribunal – um sinal claro de grave dificuldade financeira.
Aspectos Chave da Zwangsverwaltung (Administração Forçada) Esta tabela descreve as características principais, procedimentos, estrutura legal e implicações da Zwangsverwaltung – um mecanismo legal que permite aos credores aplicar a cobrança de dívidas por meio da administração gerenciada pelo tribunal de imóveis que geram renda.
Categoria | Descrição |
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Definição | Administração de imóveis ordenada pelo tribunal para pagar dívidas via renda de aluguel |
Base Legal | ZVG (Gesetz über die Zwangsversteigerung und Zwangsverwaltung); ZPO alemãs |
Iniciado Por | Credores com reivindicações aplicáveis (ex: detentores de hipotecas) |
Papel do Administrador | Zwangsverwalter gerencia o imóvel, cobra aluguéis, paga custos, reembolsa credores |
Status de Propriedade | Devedor retém a propriedade legal, mas perde o controle do ativo |
Imóveis Típicos | Imóveis geradores de receita (unidades de aluguel, edifícios comerciais) |
Objetivo | Estabilizar valor, garantir renda estável e evitar liquidação forçada |
Duração | Até que as dívidas sejam satisfeitas ou o tribunal encerre o processo |
Comparação | Alternativa à Zwangsversteigerung (venda forçada); mais orientada à renda |
Prós (para credores) | Pagamentos estáveis, preservação de ativos, risco de perda reduzido |
Contras (para devedores) | Perda de controle, registro público, recurso limitado |
Um segundo empreendimento alemão, não divulgado, também se aproxima da inadimplência, embora o banco tenha fornecido detalhes limitados sobre sua localização ou escopo. Ambos os empréstimos se originaram da mesa de dívida privada, agora desativada, que anteriormente concedia financiamento ao império Signa de René Benko, que colapsou.
Observadores do mercado familiarizados com o setor imobiliário comercial alemão apontam para questões estruturais mais profundas em jogo. "O que estamos testemunhando não são simplesmente falhas isoladas de projetos, mas a continuação da desvalorização de um mercado que se desconectou das avaliações fundamentais durante o ambiente de taxas de juros ultrabaixas", explicou um economista imobiliário baseado em Frankfurt que acompanha imóveis comerciais em dificuldades em toda a Alemanha.
Você sabia que o mercado imobiliário comercial da Alemanha passou por uma montanha-russa dramática entre 2018 e 2025, com os valores atingindo o pico em 2019 antes de experimentar um declínio acentuado de mais de 22% em grandes cidades como Berlim, Munique e Frankfurt até 2024? O mercado atingiu um valor de índice recorde de 127,68 em 2019 (ano base 1990=100) antes de cair consideravelmente, com imóveis comerciais e de escritórios em cidades importantes vendo os valores despencarem de 231,2 para apenas 150,8. Após essa longa queda, os primeiros sinais de recuperação surgiram no final de 2024 com um aumento trimestral modesto de 0,5%, seguido por uma alta mais substancial de 2,3% no início de 2025, sinalizando uma potencial recuperação do mercado à medida que as taxas de juros se estabilizaram e os investidores retornaram com uma forte preferência por espaços comerciais de alta qualidade e eficientes em energia.
A ironia não passa despercebida aos veteranos da indústria: o envolvimento do Julius Baer nesses ativos problemáticos ocorreu justamente quando deveria ter exercido maior cautela, após erros semelhantes que acabaram derrubando outros credores europeus com exposições concentradas no setor imobiliário.
Da Queda da Signa a Novas Feridas: Uma Crise em Câmera Lenta
O caminho para a situação atual do Julius Baer começou no final de 2023 com o colapso espetacular do Grupo Signa, do magnata imobiliário austríaco René Benko. Esse desastre forçou o banco suíço a reconhecer uma impressionante provisão para perda de crédito de 586 milhões de francos suíços, cortando seu lucro líquido de 2023 em 52% e desencadeando a renúncia do CEO Philipp Rickenbacher em fevereiro de 2024.
Na sequência, o Julius Baer anunciou uma saída completa do negócio de dívida privada e lançou um ambicioso programa de corte de custos visando economizar 130 milhões de francos suíços entre 2023 e 2025. Até o final de 2024, o banco na verdade excedeu essa meta, alcançando 140 milhões de francos suíços em economia de custos bruta em base anualizada.
Este reset estratégico parecia estar ganhando força. O portfólio de dívida privada encolheu dramaticamente de 0,8 bilhão de francos suíços no final de 2023 para apenas 0,4 bilhão em dezembro de 2024, representando menos de 2% do total de 42 bilhões de francos suíços da carteira de crédito do banco.
Você sabia que o banco privado suíço Julius Baer reduziu drasticamente sua exposição a dívida privada em 50% em apenas um ano, de CHF 0,8 bilhão no 4º trimestre de 2023 para CHF 0,4 bilhão no 4º trimestre de 2024, como parte de uma saída acelerada deste segmento de negócios? Este recuo estratégico segue uma crise financeira em 2023, quando o banco sofreu uma perda maciça de CHF 586 milhões relacionada a empréstimos ao conglomerado europeu Signa, o que desencadeou a renúncia do CEO Philipp Rickenbacher e um declínio de 55% no lucro líquido ajustado, apesar de a dívida privada representar apenas 2% do total da carteira de crédito do banco. O Julius Baer está agora à frente do cronograma em seu plano de descontinuação e visa reduzir ainda mais sua exposição a dívida privada para aproximadamente CHF 0,1 bilhão até o final de 2026, marcando uma mudança decisiva na estratégia de crédito do banco, voltando para o crédito Lombard e hipotecário tradicional.
"Eles fizeram todos os movimentos clássicos de gestão de crise", observou um consultor bancário suíço veterano. "Cortar exposição, mudar a liderança, reduzir custos, focar nas forças centrais. Mas no final, o setor bancário é sobre confiança, e cada nova revelação redefine o relógio da credibilidade para zero."
Resiliência Financeira em Meio a Danos à Reputação
Apesar desses contratempos, a posição financeira fundamental do Julius Baer permanece robusta pela maioria das medidas. Os ativos totais do banco cresceram 9% para 105 bilhões de francos suíços ao longo de 2024, enquanto o patrimônio líquido total aumentou 11% para 6,8 bilhões. Seu índice de cobertura de liquidez é um impressionante 292%, superando em muito os requisitos regulatórios.
O mais recente encargo de 130 milhões de francos suíços impactará apenas modestamente seus índices de capital. Antes do encargo, o banco reportou um índice de capital CET1 de 17,8% (acima dos 14,6% no final de 2023).
Após absorver este novo encargo, esse índice diminuirá aproximadamente 34 pontos-base para cerca de 17,5% – ainda substancialmente acima dos mínimos regulatórios e das médias do setor.
Um diretor de risco sênior de um banco privado europeu concorrente enfatizou essa distinção: "O mercado não questiona a solvência do Julius Baer – sua fortaleza de capital é formidável. A preocupação é se a cultura de risco realmente mudou e se a administração pode executar a transformação necessária enquanto preserva os pontos fortes históricos do banco."
Além dos Números: A Luta pela Credibilidade Estratégica
A resiliência financeira mascara uma luta mais profunda dentro do Julius Baer: convencer investidores e clientes de que o banco pode cumprir suas metas ambiciosas enquanto, ao mesmo tempo, reduz o risco de seu balanço patrimonial.
A administração comprometeu-se publicamente a reduzir o índice ajustado de custo/receita para menos de 64% até 2026, uma meta que parecia desafiadora mesmo antes deste último revés. Para 2024, esse número ficou em 69,4% – uma melhoria em relação aos 70,9% em 2023, mas ainda muito longe da meta.
Você sabia que o gigante do private banking suíço Julius Baer tem trabalhado para melhorar drasticamente sua eficiência operacional, com seu índice ajustado de custo/receita melhorando de 81,6% em 2023 para aproximadamente 71% em 2024, embora ainda aquém de sua ambiciosa meta de abaixo de 64% até o final de 2025? O banco reconheceu abertamente este desempenho como "insatisfatório e muito distante" de suas metas, levando a um programa agressivo de corte de custos que já alcançou CHF 140 milhões em economias, com outros CHF 110 milhões visados até o final de 2025. Analistas financeiros aguardam ansiosamente a atualização da estratégia do Julius Baer, programada para 3 de junho de 2025, quando se espera que o banco anuncie novas metas de médio prazo que podem se estender até 2026 e além, potencialmente remodelando sua abordagem à lucratividade e eficiência operacional no competitivo setor de private banking.
O banco anunciou uma extensão de seu programa de redução de custos, visando gerar uma economia adicional de 110 milhões de francos suíços em despesas gerais. Esta iniciativa expandida chega em um momento delicado, pois o Julius Baer deve equilibrar a disciplina de custos com a necessidade de reter gerentes de relacionamento chave e atrair ativos em um cenário de gestão de patrimônio cada vez mais competitivo.
"O desafio de execução é enorme", observou um ex-executivo de um banco privado suíço. "Eles estão pedindo aos gerentes de relacionamento para trazer mais ativos enquanto, ao mesmo tempo, cortam recursos de suporte. É um ato de equilíbrio que poucas organizações conseguem gerenciar com sucesso."
A Sombra Regulatória e a Reação do Mercado
Somando-se a esses desafios está um procedimento de fiscalização em andamento da FINMA relacionado a lapsos na governança de risco identificados durante a crise da Signa.
Esta investigação regulatória ocorre paralelamente aos esforços de remediação do banco e pode potencialmente resultar em requisitos adicionais, como maiores encargos de capital Pilar 2 ou restrições operacionais.
Os mercados de ações já precificaram grande parte dessa incerteza. As ações do Julius Baer são negociadas com um desconto notável em relação a pares de gestão de patrimônio europeus, com uma relação preço/lucro prospectiva de 10-11x em comparação com a mediana do setor de 12-13x. Embora a ação tenha caído apenas 2% no acumulado do ano, ela teve um desempenho significativamente inferior aos concorrentes desde a divulgação inicial sobre a Signa.
"A lacuna de avaliação provavelmente persistirá até que os investidores vejam evidências concretas – não apenas pronunciamentos estratégicos – de que o banco realmente abordou suas questões de cultura de risco", previu um gestor de portfólio que supervisiona investimentos no setor financeiro europeu. "Os dias de aceitar as projeções da administração sem questionar acabaram."
O Caminho a Seguir: Marcos Críticos Pela Frente
Para o Julius Baer, vários eventos críticos nos próximos meses determinarão se este último revés representa o capítulo final em suas desventuras imobiliárias ou apenas mais uma cena em um drama em andamento.
Participantes do mercado observarão de perto o resultado da fiscalização da FINMA, esperado para o segundo semestre de 2025, juntamente com divulgações detalhadas sobre a carteira de dívida privada residual quando os resultados do primeiro semestre forem anunciados no final de julho.
Igualmente importante será a evidência de que o programa de redução de custos está entregando melhorias sustentáveis sem minar a capacidade do banco de atrair novo dinheiro líquido em sua taxa alvo de mais de 4% dos ativos sob gestão anualmente.
"Os próximos seis meses representam um período decisivo para o Julius Baer", concluiu um consultor da indústria que assessora gestores de patrimônio sobre posicionamento estratégico. "Eles têm os recursos financeiros para superar esta tempestade, mas o valor da marca depende inteiramente de convencer as partes interessadas de que as lições foram realmente aprendidas. Esse é um desafio muito mais difícil do que simplesmente absorver uma perda de crédito."
Enquanto clientes de gestão de patrimônio e acionistas reavaliam seu relacionamento com o baluarte do setor bancário suíço, a questão central permanece: o Julius Baer pode transformar esta crise em um catalisador genuíno para renovação cultural e operacional – ou essas perdas imobiliárias recorrentes sinalizam vulnerabilidades institucionais mais profundas que continuarão a minar uma marca que, de outra forma, é prestigiosa?