
Guiné Lança Projeto de Minério de Ferro Simandou de US$ 23 Bilhões Após 28 Anos de Atrasos
A Aposta de US$ 23 Bilhões da África: Como a Guiné Acabou de Mudar o Jogo do Minério de Ferro
A Espera de 28 Anos Finalmente Chega ao Fim
Em 11 de novembro de 2025, o Presidente guineense Mamadi Doumbouya estava orgulhosamente no Porto de Morebaya, cercado por executivos da Rio Tinto, China Baowu, Chinalco e do Winning Consortium. Juntos, eles declararam o tão aguardado projeto de minério de ferro de Simandou oficialmente operacional. Após quase três décadas de falsos começos, o maior sonho da Guiné finalmente se concretizava. E não era apenas mais um corte de fita. Segundo o FMI, o projeto poderia impulsionar o PIB da Guiné em impressionantes 26% nos próximos cinco anos.
Simandou não é um empreendimento de mineração comum. É o maior desenvolvimento de minério de ferro 'greenfield' (totalmente novo) do mundo — um megaprojeto de engenharia de US$ 23 bilhões que se estende por 552 quilômetros de ferrovias de carga pesada, hubs de transbordo e duas vastas zonas de mineração. Os primeiros carregamentos de minério comercial já estão a caminho do porto. Mas, além da impressionante maquinaria e dos números, a verdadeira história reside em quem detém as rédeas, quão rápido eles se movem, e se este único ativo pode catapultar a Guiné de um status de fronteira para uma força importante nas commodities globais.
A Grandeza da Engenharia Diante da Realidade no Chão
Sob as montanhas de Simandou jazem 4,4 bilhões de toneladas de reservas comprovadas, com teor médio de ferro superior a 65% — qualidade de primeira linha em um mercado ávido por insumos para aço mais limpo. Quando totalmente em funcionamento, o sistema integrado visa 120 milhões de toneladas de minério por ano. O Consórcio Winning gerencia os blocos do norte, a SimFer da Rio Tinto fica com os do sul, e uma empresa de infraestrutura compartilhada — 15% de propriedade do governo guineense — supervisiona tudo.
No entanto, documentos do projeto da Rio Tinto revelam um ritmo mais lento do que os discursos políticos sugerem. A empresa planeja atingir 60 milhões de toneladas anualmente até 2028, com o Consórcio Winning esperando igualar essa meta em sua parte. O número de 120 milhões de toneladas, que tanto ganha destaque, pode soar grandioso, mas a realidade é mais dura. Apenas dois meses antes da inauguração, reguladores guineenses recusaram 18 locomotivas chinesas que não atendiam aos padrões técnicos. Essa única decisão ressalta a lacuna entre o que está no papel e o que é realmente possível ao longo de uma ferrovia de 600 quilômetros esculpida em terreno difícil.
O Dinheiro da China, a Nova Agenda da Guiné
O dinheiro e a força chinesa dominam o mapa de propriedade de Simandou. O Consórcio Winning — ancorado pelo Winning International Group de Singapura, Weiqiao Aluminum da China Hongqiao, United Mining Supply International e Baowu Resources — controla a zona norte em uma divisão 51-49. No sul, a Chinalco Iron Ore detém 75% da SimFer, a Baowu tem 20%, e fatias menores pertencem à China Civil Engineering e China Harbour. Assim que as operações ganharem ritmo, a maior parte do minério de Simandou provavelmente seguirá para a China, que já compra cerca de três quartos do minério de ferro transportado por via marítima no mundo.
Segundo Wang Duanyong, da Universidade de Estudos Internacionais de Xangai, Simandou exemplifica perfeitamente o modelo chinês de "infraestrutura por recursos". Ele aponta que as empresas ocidentais careciam tanto das profundas reservas de capital quanto da capacidade rápida de construção para tornar um projeto tão gigantesco financeiramente viável. Em contrapartida, os empreiteiros chineses trouxeram velocidade, eficiência de design e controle de custos inigualáveis pelas gigantes da mineração tradicionais.
No entanto, a Guiné não está se candidatando para ser um proprietário passivo. No dia da inauguração, autoridades deixaram claro que pretendem comercializar independentemente a participação de 15% do estado. Em vez de enviar todo o minério para a China, eles planejam cortejar siderúrgicas europeias e do Oriente Médio, ávidas por insumos de alta qualidade para aço verde. O ministro de minas foi além, exigindo estudos de viabilidade para usinas locais de pelotização e processamento — com o objetivo de impulsionar a capacidade doméstica de produção de alumina e aço.
Em suma, a Guiné está mostrando sua força cedo. Este é um nacionalismo de recursos desde o primeiro dia, não uma ideia posterior. O Presidente do Comitê Estratégico, Djiba Diakite, descreveu Simandou como a peça central do plano "Simandou 2040" do país, uma vasta visão de US$ 200 bilhões para transformar infraestrutura, indústria e agricultura. Um novo fundo soberano, alimentado por receitas da mineração, já está programado para ser lançado em meados de 2026 — apertando o controle do estado sobre os lucros futuros.
O Jogo do Investimento
Para os investidores, Simandou é ouro e aposta. A complexa teia de parcerias, política e metas de produção do projeto oferece recompensas diferentes das regiões de Pilbara na Austrália ou Carajás no Brasil — mas também acarreta novos riscos.
Comecemos pelos preços. Atualmente, o minério de ferro com teor de 62% é vendido por cerca de US$ 103 a US$ 105 por tonelada na China, enquanto o de 65% paira em torno de US$ 121 a US$ 122. O minério de ultra-alto teor de Simandou exige um prêmio estimado de US$ 16 a US$ 18 por tonelada. Jon Mills, da Morningstar, estima o prêmio em aproximadamente US$ 14 especificamente para a produção de Simandou. Se os custos de entrega para a China permanecerem na faixa de US$ 45 a US$ 55 — razoável dada a nova infraestrutura — as margens em regime de operação plena podem atingir US$ 65 a US$ 75 por tonelada. É um território de lucro saudável, mas apenas se a produção aumentar sem problemas e o governo resistir a redirecionar a produção para uso doméstico ou manipulação de preços.
O incidente da locomotiva é mais do que um percalço; ele sinaliza que a Guiné está aplicando padrões, mesmo ao custo da velocidade. Cada atraso — seja por problemas técnicos, verificações ambientais ou disputas locais — empurra o aumento de 30 meses da Rio para mais longe. Uma previsão realista? Cerca de 8 a 12 milhões de toneladas até 2026, crescendo para 80 ou 90 milhões de toneladas até 2028. A capacidade total de 120 milhões de toneladas provavelmente levará mais tempo do que as manchetes sugerem.
O plano da Guiné de comercializar parte de seu minério fora da China também pode redesenhar o mapa comercial. Se o governo cumprir, isso abre a porta para compradores europeus e do Oriente Médio — e até mesmo para comerciantes, credores e agências de crédito à exportação ocidentais ansiosos por uma posição. Investidores americanos não podem comprar as minas diretamente, mas ainda podem se beneficiar através de rotas de navegação, financiamento de projetos ou acordos de compra estruturados.
Ainda assim, os riscos permanecem. Os maiores não são geológicos — são políticos e operacionais. O desejo da Guiné por preços altos e valor agregado local pode entrar em conflito com a demanda da China por um fornecimento acessível. Adicione a abordagem de governança ocidental da Rio Tinto, e você tem um triângulo delicado de prioridades concorrentes. Espere uma aceleração mais lenta e mais negociada do que um projeto totalmente privado entregaria.
Para investidores públicos, a Rio Tinto oferece a aposta mais segura à medida que Simandou transita da construção para as exportações. No entanto, mesmo a Rio enfrenta pressão: um aumento repentino na produção poderia puxar os preços globais para baixo. Vale e BHP, por sua vez, podem se encontrar lutando mais arduamente pelo mercado de minério premium, especialmente se Simandou se tornar a fonte preferencial para o impulso do aço verde na Europa.
Em última análise, a história de Simandou não é se vai acontecer — já aconteceu. A verdadeira questão agora é quem irá dirigi-lo, quem lucra mais com suas riquezas, e se este gigante de US$ 23 bilhões pode equilibrar as ambições de Pequim, Conacri e o capital ocidental ao mesmo tempo. A inauguração de 11 de novembro respondeu à primeira pergunta. Os próximos três anos revelarão o resto.
NÃO É ACONSELHAMENTO DE INVESTIMENTO