O Golpe Silencioso: Por Dentro da Ousada Manobra da Crypto.com para se Tornar o Cofre Digital de Wall Street
A Crypto.com acaba de fazer uma de suas jogadas mais audaciosas. A gigante global de criptomoedas apresentou um pedido ao Escritório do Controlador da Moeda dos EUA (OCC) para se tornar um banco fiduciário nacional com licença federal — um passo silencioso, mas revolucionário, que pode integrar a empresa profundamente ao tecido das finanças americanas.
Isso não se trata de abrir agências bancárias ou oferecer contas correntes. Trata-se de conquistar o direito de salvaguardar bilhões em ativos digitais — Bitcoin, Ether, ETFs, fundos de pensão, tesourarias corporativas — tudo sob a firme supervisão federal. Em suma, a Crypto.com quer ser o cofre confiável para o futuro digital de Wall Street.
Se o OCC aprovar a licença, a empresa evoluiria de uma corretora chamativa para um custodiante regulamentado federalmente — uma espécie de Forte Knox digital, vinculado por um único conjunto de regras nacionais. Essa mudança permitiria que ela contornasse o labirinto de 50 licenças estaduais separadas que há muito tempo têm desacelerado a expansão da indústria cripto nos EUA.
"Desde o primeiro dia, construímos a Crypto.com em torno de ofertas seguras e regulamentadas", disse o CEO Kris Marszalek, enquadrando a mudança como um passo natural. Para uma indústria marcada por colapsos espetaculares e fortunas perdidas, suas palavras soam como um voto: confiança, transparência e um fim para o Velho Oeste das criptomoedas.
Este pedido faz parte de uma corrida crescente entre os pesos-pesados das criptomoedas. A Coinbase apresentou um pedido semelhante no início deste mês, e outras como Circle e Ripple também estão se preparando. Elas não estão buscando depósitos de varejo — elas estão atrás de algo muito maior: o direito de deter e proteger a infraestrutura financeira de amanhã, onde trilhões em ativos tradicionais se movem em trilhos de blockchain.
O Acerto de Contas e a Corrida do Ouro
Este momento tem raízes profundas no passado sombrio das criptomoedas. As implosões da FTX, Celsius e outros grandes players em 2022 eliminaram mais de US$ 100 bilhões e abalaram a confiança institucional. Uma pesquisa da PwC em 2025 revelou que 70% dos grandes investidores ainda veem regulamentações pouco claras como sua maior barreira para entrar no mercado cripto. Esse vácuo de credibilidade criou uma demanda por custodiantes supervisionados federalmente — empresas nas quais os investidores possam confiar com seu ouro digital.
A Crypto.com já possui uma licença fiduciária em New Hampshire, mas uma autorização nacional seria o distintivo máximo de credibilidade. É uma mensagem direcionada diretamente às diretorias da BlackRock e Fidelity, cujos ETFs de criptomoedas agora excedem US$ 50 bilhões. Essas gigantes querem custodiantes que falem a linguagem dos reguladores, e não apenas a dos engenheiros de blockchain.
O momento não é aleatório. A nova administração dos EUA adotou um tom mais amigável em relação à inovação, substituindo o período de frieza pós-2021 por um otimismo cauteloso. Uma mudança fundamental na política do OCC há quatro anos derrubou a regra "apenas fiduciário" para licenças fiduciárias, abrindo as portas para empresas de criptomoedas. O que começou como um gotejamento agora se tornou uma verdadeira corrida do ouro por licenças em 2025.
Globalmente, a Crypto.com tem jogado xadrez enquanto outros jogam damas. Ela tem construído o que chama de "fortaleza de conformidade", obtendo licenças e aprovações nos EAU, Bahrein e Europa. Uma licença nacional nos EUA seria a joia da coroa — oferecendo autoridade federal e precedência sobre o escrutínio estado por estado.
O Lado Afiado da Regulamentação
Para a Crypto.com, isso não se trata de força bruta; trata-se de precisão. Uma licença fiduciária nacional poderia reduzir os custos de conformidade em quase metade, de acordo com o escritório de advocacia Davis Wright Tremaine, enquanto aceleraria serviços institucionais como o staking. Também daria à Crypto.com um lugar literal à mesa dos grandes bancos que antes zombavam da indústria de criptomoedas.
Mas esta oportunidade vem com arestas afiadas. O processo do OCC é um teste de resistência que pode levar até dois anos e consumir mais de US$ 50 milhões em custos legais e de instalação. Os examinadores dissecam tudo — sistemas antilavagem de dinheiro, ferramentas de rastreamento de blockchain, cibersegurança e reservas de liquidez. Cerca de um em cada cinco solicitantes não consegue passar.
A jornada da Anchorage Digital oferece um aviso. Ela se tornou a primeira empresa de criptomoedas a obter uma licença do OCC em 2021, apenas para enfrentar uma ordem de consentimento um ano depois devido a lacunas na antilavagem de dinheiro. Embora essa ordem tenha sido suspensa em agosto passado, ela mostrou o quão rigorosa pode ser a supervisão federal.
Os bancos tradicionais também não estão entusiasmados. Grupos como a Independent Community Bankers of America (ICBA) argumentam que o OCC está permitindo que "bancos paralelos" se infiltrem no sistema. Em uma carta inflamada neste verão, a ICBA alertou que as empresas de criptomoedas poderiam "transformar a Main Street em um caixa eletrônico de meme coins". A tensão não é apenas regulatória — é filosófica. Esta luta tornou-se uma batalha pela alma do sistema bancário americano.
O Veredito da Praça Pública Digital
As redes sociais explodiram minutos após o anúncio. Fãs leais da Crypto.com inundaram o X (antigo Twitter) com "EM CRO NÓS CONFIAMOS! 🫡", saudando a mudança como uma vitória para a legitimidade.
Outros não foram tão gentis. Um analista brincou: "A Crypto.com acaba de entrar para o 'Clube da Licença Bancária' — porque nada diz 'revolução descentralizada' como implorar permissão aos federais." Outro acrescentou com humor seco: "Prós: distintivo federal brilhante. Contras: um ano e meio de inferno burocrático e bancos reclamando como se fosse 2008 de novo."
Ainda assim, a maioria dos especialistas concorda — esta é uma aposta inteligente e calculada. Se a Crypto.com conseguir, seus ativos sob custódia poderiam dobrar para mais de US$ 6 bilhões até 2027. Se falhar, corre o risco de ficar para trás da Coinbase e de outras já à frente no processo de aprovação da OCC.
Um Futuro Forjado na Conformidade
Aconteça o que acontecer, este pedido pode moldar o futuro das criptomoedas na América. Ele revelará se as finanças digitais crescem por meio da inovação descentralizada ou da integração federal. Os analistas atualmente dão à Crypto.com 65% de chance de aprovação até o final de 2026 — assumindo que ela supere os obstáculos regulatórios em torno de staking e transferências de dados.
Se vencer, espere uma onda de imitadores. Mais pedidos inundarão o OCC, padronizando a custódia de criptomoedas e acelerando a adoção de ativos tokenizados por Wall Street.
Mas não se engane — este caminho é longo, custoso e dolorosamente sem glamour. A próxima era das criptomoedas não será definida por anúncios do Super Bowl ou endossos de celebridades. Ela será construída em diretorias e departamentos de conformidade, por meio de auditorias intermináveis e grossos volumes de papelada regulatória.
Para a Crypto.com e seus rivais, este é o preço de crescer. A era da especulação imprudente está se desvanecendo rapidamente, substituída por uma ambição mais silenciosa e estável: tornar as criptomoedas tão entediantes — e tão bancáveis — quanto dinheiro no cofre.
