
A Crise Silenciosa da Gigante da Nuvem: O Dilema de US$ 220 da Amazon na Era do Excesso de IA
A Crise Silenciosa da Gigante da Nuvem: O Dilema de US$ 220 da Amazon na Era do Excesso de IA
Enquanto concorrentes surfam na onda da IA para valorizações históricas, a principal provedora de nuvem do mundo luta com custos crescentes, margens encolhendo e uma crescente barreira de dúvidas dos investidores.
O mercado não mede palavras — os números contam a história. A Nvidia disparou, ultrapassando uma valorização de US$ 4,5 trilhões. O negócio de nuvem da Microsoft é negociado a prêmios exorbitantes graças ao otimismo em torno da IA. No entanto, a Amazon, a empresa que inventou a computação em nuvem moderna, está cotada a US$ 220,07 por ação. Para 2025, isso mal a mantém acima do ponto de equilíbrio. Entre as “Sete Magníficas”, ela é a retardatária — um título desconfortável em um ano em que a IA é a única coisa sobre a qual Wall Street quer falar.
É um paradoxo estranho. A Amazon está gastando como se fosse dona do futuro, mas o mercado a está precificando como uma empresa de ontem. Essa tensão fica mais evidente a cada relatório trimestral.
O contraste com os pares é doloroso. Em 13 de outubro, o retorno acumulado no ano da Amazon era de apenas 0,31%. Em um mercado normal, isso seria aceitável. Mas não estamos em um mercado normal. A Palantir saltou 135%. A Seagate disparou 166%. A menor narrativa de IA transformou empresas comuns em queridinhas do mercado — enquanto a Amazon, a disruptora original da nuvem, parece não conseguir embalar.
A volatilidade não ajudou. As ações da Amazon caíram abaixo de zero retorno mais de uma vez este ano, oscilando em torno do ponto de equilíbrio enquanto negociava mais de 37 milhões de ações em um dia. Esse tipo de volume indica uma coisa: os investidores institucionais estão repensando suas apostas.
Quando a Joia da Coroa Perde o Brilho
A ansiedade não é sobre o negócio de varejo da Amazon. É sobre seu verdadeiro centro de lucro — a Amazon Web Services (AWS). Por anos, a AWS foi intocável. Ela ainda lidera o mercado global de nuvem com aproximadamente 30% de participação, à frente do Microsoft Azure, com 20%, e do Google Cloud, com 13%. Mas no ambiente atual, impulsionado pela IA, a participação de mercado não é suficiente. Wall Street quer velocidade.
O segundo trimestre expôs as rachaduras. A receita da AWS aumentou 17,5% ano a ano, atingindo US$ 30,9 bilhões. Sólido, mas não espetacular. O Azure está crescendo mais rápido. O Google Cloud está expandindo em cerca de 32%. Então veio o verdadeiro golpe no estômago: as margens.
As margens operacionais da AWS caíram de um recorde de 39,5% no primeiro trimestre para 32,9% no segundo trimestre. Essa queda de 660 pontos-base abalou os analistas e os forçou a repensar a lucratividade de longo prazo.
A Amazon culpou a capacidade — não a demanda. Executivos disseram que a empresa simplesmente não consegue construir rápido o suficiente. Não há energia suficiente. Os chips são limitados. A fabricação de servidores tem gargalos. Em outras palavras, os clientes querem comprar — mas a AWS não consegue escalar rápido o suficiente para atendê-los.
É uma explicação crível. Mas Wall Street não gosta de esperar. Se o problema é a oferta, não a demanda, então a receita futura deve disparar assim que a infraestrutura entrar em operação. A questão? Os investidores não são pagos pelo “futuro”. Eles são pagos pelo “neste trimestre”.
E a paciência é um bem escasso.
A Pergunta de US$ 100 Bilhões
A Amazon está investindo pesado em gastos de capital. Somente no segundo trimestre, a empresa injetou US$ 31,4 bilhões em infraestrutura. Capex anual total? Mais de US$ 100 bilhões. Isso é maior que o PIB de muitos países — e mesmo para uma empresa do tamanho da Amazon, é um número impressionante.
Quase tudo isso está indo para a corrida armamentista da IA: data centers, silício personalizado, sistemas de energia, rede de alta velocidade — tudo o que é necessário para executar cargas de trabalho massivas de IA generativa.
A história oferece um aviso. Empresas que aumentam o capex muito acima da receita geralmente ficam para trás no mercado no curto prazo. Os investidores hesitam porque os retornos são incertos e distantes. A Amazon agora se encaixa perfeitamente nesse padrão — investimento massivo hoje, retorno talvez em 2026 ou depois.
Enquanto isso, os concorrentes estão jogando de forma mais inteligente — ou, pelo menos, mais enxuta.
A parceria da Microsoft com a OpenAI lhe dá um motor de distribuição de IA integrado. Ela está integrando a IA no Office, Azure e em cada fluxo de trabalho corporativo. Isso é receita recorrente com altas margens. O Google Cloud, por outro lado, está se posicionando como a plataforma ideal para startups nativas de IA. Ambas as empresas estão crescendo mais rápido que a AWS — com menos capital.
Wall Street adora essa combinação: alto crescimento, baixo gasto. A Amazon está oferecendo o oposto.
Sombras Regulatórias e Pressões nas Margens
Como se os desafios operacionais não fossem suficientes, a Amazon também enfrenta dores de cabeça regulatórias. A FTC multou a empresa em um acordo de US$ 2,5 bilhões por práticas de assinatura do Prime. Em termos da Amazon, isso é troco de bala — mas as manchetes duram mais que as multas. Embora o reembolso se estenda até 2026, a questão maior é o sentimento. A atenção negativa limita os múltiplos de avaliação, mesmo quando os fundamentos se mantêm estáveis.
Tensões comerciais adicionam outra camada de incerteza. A conversa renovada sobre tarifas de 100% sobre importações chinesas — por mais improváveis que sejam — força a Amazon a repensar o planejamento de estoque e a precificação em sua divisão de varejo. Além disso, a logística de e-commerce está ficando mais cara, e concorrentes oferecendo preços irrisórios estão corroendo a participação de mercado.
O varejo ainda gera muito dinheiro. Mas oferece pouca expansão de múltiplos. Os investidores sabem que o verdadeiro potencial de alta deve vir da AWS… e é exatamente onde as perguntas estão se acumulando.
Decifrando o Cálculo de Investimento
Então, o que o mercado está realmente perguntando? Isso se resume a tempo versus destino. No momento, o preço das ações da Amazon reflete dúvida — dúvida de que a AWS possa acelerar o crescimento da receita e reconstruir as margens tão cedo.
Mas e se os céticos estiverem interpretando mal o problema? Um número crescente de analistas pensa que a desaceleração da AWS é devido a restrições de oferta, não a perda de clientes. Eles apontam para atrasos na rede elétrica, construção de subestações e disponibilidade de chips — não rotatividade de clientes. Eles também destacam a forte demanda por Bedrock, a plataforma de IA da Amazon, e a crescente adoção de agentes de IA na AWS.
Se isso for verdade, então a história muda. Não é deterioração. É uma pausa.
As margens podem seguir um padrão cíclico também. Quando os provedores de nuvem expandem rapidamente a capacidade, a depreciação dispara antes que a receita aumente. É normal. Historicamente, as margens caem, depois se recuperam assim que os novos ativos começam a gerar caixa. Uma curva clássica em U.
Para os investidores, isso abre a porta para a estratégia. Alguns estão construindo posições gradualmente, comprando durante períodos de fraqueza. Opções de venda com garantia em dinheiro de 5 a 10 por cento abaixo dos preços atuais podem gerar renda enquanto esperam por uma correção. Outros estão apostando em valor relativo — comprado em Amazon, vendido em nomes de IA superestimados que podem esfriar quando as expectativas de crescimento se normalizarem.
Investidores mais sofisticados estão de olho em "call spreads" de longo prazo com vencimento em meados de 2026. A ideia: se a AWS recuperar o ritmo, o potencial de alta pode ser significativo. Apenas não trate isso como um trade de momentum. Este é um jogo de paciência.
Navegando na Incerteza
Para entender para onde a AWS está indo, algumas métricas importam mais do que as outras.
Observe a receita contratada, mas não reconhecida, da AWS. Ela revela a verdadeira demanda, independentemente dos limites de capacidade. Acompanhe os acordos de compra de energia e os cronogramas de energização de data centers — eles mostram quando os gargalos de infraestrutura serão eliminados. E fique de olho nas despesas operacionais da AWS, especialmente como a depreciação se compara a outros custos. Essa proporção indica quão madura é a base de ativos e quão eficientemente ela está sendo usada.
Acima de tudo, compare o crescimento da AWS com o Azure e o Google Cloud a cada trimestre. Se a diferença começar a diminuir, o mercado finalmente acreditará na narrativa da Amazon sobre o “problema de capacidade” — e o sentimento poderia mudar rapidamente.
Mas não ignore os riscos. E se a Microsoft e o Google construírem ecossistemas de IA tão atraentes que os clientes não retornem? E se a escassez de energia se arrastar por anos? E se a economia desacelerar e os orçamentos de TI das empresas encolherem?
Nesse caso, o caminho fica acidentado.
O desempenho passado não garante resultados futuros. Essas análises refletem as condições atuais do mercado e não constituem aconselhamento de investimento personalizado. Sempre consulte consultores financeiros profissionais antes de tomar qualquer decisão de investimento.
A Amazon está em uma encruzilhada. A dor de curto prazo está colidindo com a ambição de longo prazo. A empresa está apostando bilhões que a infraestrutura de IA de amanhã justificará os gastos de hoje. O mercado não está convencido — pelo menos, não ainda.
O veredito final ainda não foi escrito. Mas aqui está a reviravolta: esperar pela certeza absoluta pode ser a jogada mais cara de todas.
NÃO É ACONSELHAMENTO DE INVESTIMENTO