O Alerta de 48 Milhões de Euros da Apple: Como a França Finalmente Se Opos ao Império do iPhone

Por
Yves Tussaud
4 min de leitura

O Alerta de €48 Milhões para a Apple: Como a França Finalmente Reagiu ao Império do iPhone

PARIS – Após mais de uma década de batalhas judiciais, a Apple foi condenada a pagar €48 milhões por coagir operadoras de telefonia móvel francesas a assinar contratos unilaterais. O Tribunal de Atividades Econômicas de Paris proferiu o veredito, declarando que as táticas comerciais da Apple ultrapassaram o limite entre a inteligência e a coerção.

Por anos, a gigante da tecnologia usou o fascínio irresistível do iPhone para dobrar as operadoras à sua vontade. O tribunal afirmou que a Apple forçou as operadoras a financiar suas campanhas de marketing, comprometer-se com pedidos maciços de iPhone a preços fixos e ceder sua própria propriedade intelectual – tudo sem compensação justa. Em suma, a Apple ditava todas as regras, e as operadoras acatavam porque não podiam se dar ao luxo de não fazê-lo.

A decisão de €48 milhões encerra um caso que começou em 2013, lançado pelo órgão de defesa do consumidor da França, a DGCCRF. Embora a multa seja troco para uma empresa que ganha mais do que isso em poucas horas, a decisão em si pode gerar ondas de choque nas parcerias globais da Apple. A mensagem do tribunal é clara: o domínio não concede imunidade.

O valor total se divide em uma multa de €8 milhões, €950.000 em custos legais e quase €39 milhões em danos divididos entre três das principais operadoras da França — Bouygues Telecom (€16 milhões), Free (€15 milhões) e SFR (€7,7 milhões). A única exceção foi a Orange, que não recebeu nada. Os juízes disseram que a Orange havia tido um acordo exclusivo com a Apple, ajudando a criar o mesmo desequilíbrio do qual mais tarde reclamou.


A Anatomia do Abuso

No centro desta saga estavam nove cláusulas sorrateiras enterradas nos contratos de iPhone da Apple, particularmente aquelas para o iPhone 5s e 5c. Os reguladores disseram que esses termos inclinaram o campo de jogo inteiramente a favor da Apple. O tribunal concordou.

As operadoras não eram parceiras, eram peões. Elas tinham que despejar milhões em campanhas publicitárias geridas pela Apple — entre €7 e €10 milhões a cada ano, de acordo com relatórios — apenas para ver seus logotipos discretamente escondidos sob o da Apple em outdoors. Preços? Não negociáveis. As operadoras tinham que comprar um número fixo de telefones a preços fixos, prendendo-as em acordos mesmo quando as tendências de mercado mudavam.

A Apple também reivindicava o direito de usar as marcas, patentes e até dados sensíveis de rede das operadoras sem pagar um centavo. E se isso não fosse suficiente, a Apple se deu o poder de rescindir o acordo a qualquer momento — enquanto ainda exigia que as lojas construíssem displays sofisticados e aprovados pela Apple às suas próprias custas.

“Foi uma lenta erosão da liberdade”, disse uma fonte próxima à queixa original da DGCCRF. Em 2013, os ministros Pierre Moscovici, Arnaud Montebourg e Fleur Pellerin lideraram a acusação, argumentando que o comportamento da Apple não era uma negociação astuta — era abuso, puro e simples.


O Cerco Europeu se Aperta

O veredito da França se encaixa perfeitamente em uma tendência europeia maior: os reguladores estão se cansando da arrogância do Vale do Silício.

Em março de 2025, as autoridades francesas aplicaram outra multa de €150 milhões à Apple por usar seu recurso de Transparência de Rastreamento de Aplicativos para dar uma vantagem injusta aos seus próprios anúncios. Isso ocorreu após uma penalidade de €1,1 bilhão em 2020 por práticas anticompetitivas e um acordo separado sobre o “batterygate”, quando a Apple admitiu ter desacelerado iPhones mais antigos por meio de atualizações de software.

Juntos, esses casos mostram que os reguladores europeus afiaram suas facas. Sob a Lei dos Mercados Digitais, espera-se que empresas “guardiãs” como a Apple joguem limpo ou enfrentem as consequências. A nova decisão francesa pode focar em contratos físicos, mas carrega o mesmo peso moral: empresas poderosas não podem continuar reescrevendo as regras para se adequarem.


O Que Acontece a Seguir

A Apple ainda não comentou, mas fontes dizem que um recurso já está em andamento. Isso pode estender a disputa por mais vários anos. Ainda assim, a Apple terá que remover as cláusulas ofensivas de todos os futuros acordos com operadoras francesas — não importa o que aconteça no tribunal.

Essa mudança dá às operadoras algo que lhes faltava há muito tempo: poder de barganha. Bouygues, Free e SFR agora podem negociar em pé de igualdade, e a compensação as ajudará a expandir as redes 5G e outros serviços.

O efeito cascata pode se espalhar rapidamente. Advogados dizem que esta decisão fornece um modelo pronto para que reguladores na Itália, Espanha e Alemanha revisitem seus próprios acordos com a Apple. Se isso acontecer, a empresa pode ser forçada a repensar completamente como faz negócios com operadoras em todo o mundo — um golpe potencial em suas margens de lucro notoriamente altas do iPhone, que giram em torno de 70%.

E quanto aos usuários comuns? O impacto pode ser de dois gumes. Mais concorrência pode reduzir os preços ou estimular a inovação. Mas a Apple também pode aumentar as taxas de atacado na Europa para compensar a diferença.


O Cenário Geral

Este caso não é apenas sobre alguns contratos injustos. É sobre quem detém o poder — grandes empresas de tecnologia ou os mercados que elas dominam.

Os reguladores da França deixaram sua posição cristalina: até a maior empresa da Terra deve seguir as mesmas regras que todos os outros. A luta de doze anos da Apple por um punhado de cláusulas contratuais terminou com uma lição cara — uma que pode ecoar muito além de Paris.

Na batalha entre inovação e responsabilidade, a França acabou de lembrar ao mundo que nenhum império, por mais brilhante ou icônico que seja, é intocável.

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