ANZ Paga Multa Recorde de US$ 240 Milhões Após Admitir Manipulação de Títulos Públicos e Falhas com Clientes

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NNZ
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O Acerto de Contas de A$240 Milhões do ANZ: Quando a Confiança se Torna a Moeda Mais Cara da Austrália

Penalidades recordes expõem falhas enraizadas nos setores de atacado e varejo, ameaçando relações governamentais e a confiança dos clientes

A admissão do Australia and New Zealand Banking Group (ANZ) de uma má conduta generalizada que se estendeu por anos culminou em uma penalidade proposta de A$240 milhões — a maior ação de fiscalização que a Comissão Australiana de Valores Mobiliários e Investimentos (ASIC) já buscou contra uma única entidade. O acordo, pendente de aprovação do Tribunal Federal, expõe um padrão preocupante de falhas que se estenderam desde os mais altos níveis de gestão da dívida soberana até as obrigações mais básicas de atendimento ao cliente.

A má conduta abrange quatro áreas distintas que, juntas, pintam um quadro de falhas sistêmicas de controle, em vez de incidentes isolados. Desde a manipulação de acordos de títulos do governo que potencialmente minaram o financiamento público até a cobrança de taxas de clientes falecidos por anos, as admissões do ANZ revelam uma instituição que repetidamente priorizou processos internos em detrimento de seus deveres fiduciários.

ANZ (gstatic.com)
ANZ (gstatic.com)

A Traição Soberana que Abalou Canberra

O elemento mais prejudicial centra-se no papel do ANZ na gestão de uma emissão de A$14 bilhões em títulos do governo em 19 de abril de 2023. Em vez de executar a transação com a abordagem gradual esperada de um distribuidor confiável, o ANZ vendeu volumes significativos de futuros de títulos australianos de 10 anos em torno da janela de precificação, criando o que a ASIC caracterizou como "pressão indevida para baixa nos preços".

A mecânica revela uma violação fundamental de confiança. O ANZ sabia que detinha volumes substanciais ainda a serem vendidos, mas não divulgou isso ao Escritório Australiano de Gestão Financeira (AOFM), negando ao governo a oportunidade de atrasar a precificação ou ajustar a estratégia. Quando questionado sobre a execução, os relatórios subsequentes do ANZ foram considerados enganosos ou inverídicos.

Essa conduta atingiu o cerne do mecanismo de financiamento soberano da Austrália. As emissões de títulos do governo financiam serviços públicos críticos, incluindo saúde, educação e infraestrutura. Qualquer manipulação que aumente os custos de financiamento essencialmente tributa cada cidadão australiano.

Para agravar a situação, a ASIC descobriu que o ANZ vinha superestimando seu volume de negócios no mercado secundário de títulos para o governo em dezenas de bilhões de dólares australianos por quase dois anos. Esses dados influenciam diretamente a seleção de distribuidores para futuras emissões de títulos, o que significa que o ANZ estava manipulando as métricas usadas para determinar sua própria nomeação para mandatos lucrativos.

Quando os Bancos Esquecem os Vivos e os Mortos

As falhas no setor de varejo revelam uma instituição que perdeu o controle das obrigações básicas de atendimento ao cliente. Entre maio de 2022 e setembro de 2024, o ANZ não respondeu a 488 clientes que enviaram notificações de dificuldades financeiras, com alguns esperando mais de dois anos por uma resposta. As circunstâncias relatadas por esses clientes incluíam desemprego, problemas médicos graves, luto e violência familiar — situações que exigiam atenção e empatia imediatas.

Mais perturbador ainda, o ANZ continuou as atividades de cobrança de dívidas contra clientes cujas notificações de dificuldades permaneciam sem resposta, emitindo avisos de inadimplência e encaminhando contas para cobradores externos enquanto ignorava os pedidos de assistência.

O tratamento do banco aos patrimônios de clientes falecidos adiciona outra camada de disfunção institucional. Entre julho de 2019 e junho de 2023, o ANZ sistematicamente não reembolsou taxas cobradas de milhares de clientes falecidos. Os sistemas do banco mostraram-se incapazes de identificar quais taxas deveriam ser dispensadas após a morte, agravando o luto das famílias que lidavam com a perda, ao mesmo tempo em que frustravam o processo de inventário.

A Matemática das Promessas Quebradas

A gestão das taxas de juros de poupança do ANZ demonstra como deficiências de processo podem impactar dezenas de milhares de clientes. Entre julho de 2013 e janeiro de 2024, os juros bônus introdutórios prometidos frequentemente não foram aplicados devido a falhas no sistema. O banco acabou compensando 194.487 contas — representando 7,26% das contas abertas durante este período.

Um problema separado, entre agosto de 2024 e março de 2025, resultou na promoção de taxas básicas variáveis e bônus fixos introdutórios imprecisos no site do ANZ. Isso afetou 56.703 clientes, com 26.917 recebendo pagamentos de juros incorretos, totalizando aproximadamente A$480.000 em valores não pagos.

Essas falhas refletem mais do que simples negligências. Elas indicam fraquezas fundamentais na forma como o quarto maior banco da Austrália gerencia suas ofertas de produtos mais básicas.

A Resposta Sem Precedentes da ASIC

O Presidente da ASIC, Joe Longo, proferiu críticas incomumente diretas, afirmando que o ANZ havia "repetidamente traído a confiança dos australianos". A linguagem do regulador sinaliza uma profunda ruptura na relação entre supervisor e instituição supervisionada.

"Os bancos devem ter a confiança dos clientes e do governo", enfatizou Longo. "Este resultado mostra um desrespeito inaceitável por essa confiança, que é crítica para o sistema bancário."

A Vice-Presidente Sarah Court apontou "graves inadequações em múltiplos níveis e múltiplas divisões do ANZ e uma clara falha na gestão de riscos não financeiros". A avaliação regulatória sugere problemas que se estendem muito além de incidentes isolados para abranger estruturas fundamentais de governança e controle.

A Estrutura da Penalidade Conta uma História

A penalidade proposta de A$240 milhões se divide em A$125 milhões para questões institucionais e de mercado — incluindo um recorde de A$80 milhões por conduta inescrupulosa — e A$115 milhões para falhas no varejo. Essa estrutura reflete a visão da ASIC de que a manipulação de títulos do governo representa a violação mais grave, justificando consequências financeiras sem precedentes.

Incluindo o anúncio de hoje, a ASIC abriu onze processos de penalidade civil contra o ANZ desde 2016, com um total de penalidades propostas e ordenadas superior a A$310 milhões. Esse padrão sugere problemas culturais e operacionais persistentes, em vez de lapsos episódicos.

Implicações de Mercado e Considerações para Investidores

Para investidores institucionais, o acordo levanta questões sobre a posição do ANZ no ecossistema de dívida soberana da Austrália. O Escritório Australiano de Gestão Financeira (AOFM) depende de dados de volume de negócios ao selecionar distribuidores para emissões de títulos. A inflação admitida desses números pelo ANZ pode desencadear um escrutínio aprimorado ou critérios de seleção modificados que podem impactar futuras alocações.

A penalidade de A$240 milhões, embora substancial, representa aproximadamente 1,7% dos lucros em caixa do ANZ no ano fiscal de 2024. No entanto, o dano reputacional e as potenciais consequências para os negócios podem se mostrar mais custosos do que o próprio acordo financeiro.

O ANZ sinalizou gastos adicionais de remediação de aproximadamente A$150 milhões até o ano fiscal de 2026, concomitantemente com o programa de reestruturação do CEO Nuno Matos, que inclui o corte de 3.500 empregos. O momento sugere o reconhecimento da gestão de que a transformação operacional é essencial para a reabilitação regulatória.

Olhando para o Futuro: Reabilitação Regulatória

O caminho à frente para o ANZ envolve múltiplos pontos de verificação regulatórios. O Tribunal Federal deve aprovar as penalidades propostas, enquanto o adicional de capital de A$1 bilhão da Autoridade Australiana de Regulação Prudencial (APRA) permanece em vigor, aguardando melhorias demonstradas na gestão de riscos não financeiros.

Analistas de mercado sugerem que o acordo traz clareza sobre a exposição regulatória do ANZ, potencialmente removendo um fator de pressão que tem pesado sobre as ações. No entanto, uma reavaliação significativa provavelmente dependerá de evidências de melhoria operacional, em vez de simplesmente resolver problemas antigos.

O caso também estabelece novos precedentes para a fiscalização da ASIC, particularmente a penalidade recorde por conduta inescrupulosa nos mercados de dívida soberana. Outros grandes bancos podem esperar um escrutínio aprimorado de seus negócios com o governo e padrões de tratamento ao cliente.

O Déficit de Confiança

A má conduta admitida do ANZ abrange o espectro completo das relações bancárias — desde os arranjos institucionais mais sofisticados até os serviços de varejo mais básicos. A consistência das falhas em áreas tão diversas sugere problemas fundamentais com a cultura de risco e os controles operacionais do banco.

Para os formuladores de políticas australianos, o caso destaca vulnerabilidades no ecossistema de dívida soberana que exigem reformas estruturais. Verificação aprimorada de dados, restrições de protocolo de negociação e medidas de responsabilidade do distribuidor parecem inevitáveis.

Para os acionistas do ANZ, o acordo representa tanto o encerramento da má conduta passada quanto um roteiro para futuros investimentos em conformidade. A capacidade do banco de demonstrar melhorias operacionais duradouras determinará se esta penalidade de A$240 milhões marca o fim de um capítulo problemático ou apenas mais um episódio em uma saga regulatória contínua.

O veredito final sobre a reabilitação do ANZ será escrito não em acordos de penalidade, mas na execução diária de seus deveres fiduciários para com clientes e governo.

Tese de Investimento da Casa

CategoriaDetalhes e Análise
Resumo do EventoANZ admite alegações da ASIC: conduta inescrupulosa em um acordo soberano (abril de 2023), volume de negócios superestimado para o AOFM e falhas no varejo (dificuldades, juros bônus, taxas de falecidos). ~65 mil clientes afetados. Penalidade de A$240 milhões solicitada (A$125 milhões mercados, A$115 milhões varejo), pendente de aprovação judicial.
Impacto no CapitalA taxa CET1 permanece sólida em ~11,8–11,9%. A multa de A$240 milhões é imaterial para o capital. A principal restrição é o adicional de capital supervisório de A$1 bilhão da APRA (imposto em abril de 2025), que restringe a flexibilidade de capital e recompras.
Caminho dos Lucros (P&L)Multa: ~A$0,075–0,080/ação em arrasto pontual de lucro por ação (EPS) após impostos (não dedutível).
Custos: ~A$150 milhões em gastos de remediação + ~A$560 milhões em encargo de reestruturação. A relação Custo-Receita deve aumentar 50-70 pontos-base no AF25/26.
Perspectiva: Economias de ~3.500 cortes de empregos compensarão os custos de conformidade até o AF27. ROTE de curto prazo preso em ~10-11%.
Causas Raiz1. Dívida de Governança/Risco Não Financeiro (NFR): Falta de rastreabilidade de dados auditáveis para métricas externas chave.
2. Incentivos Mal Direcionados: Cultura de mercados priorizava a óptica de ranking em detrimento do risco do cliente.
3. Proliferação de Tecnologia de Varejo: Sistemas legados e processos frágeis levaram a erros repetidos.
Principais Fatores de Pressão e Riscos1. Painel do AOFM: Risco de regras mais rígidas (auditorias, hedge) reduzindo a participação de alocação do ANZ em sindicatos, prejudicando a imagem da divisão Institucional.
2. Supervisão da APRA: A persistência do adicional de capital de A$1 bilhão até o AF26+ é o principal fator de pressão para o patrimônio; risco de restrições de crescimento.
3. Cauda de Litígios: Potencial de ações coletivas devido a problemas de varejo, provavelmente na casa das dezenas de milhões.
Cenário BaseO tribunal aprova a penalidade. O adicional de A$1 bilhão da APRA persiste até o AF26. O AOFM mantém o ANZ no painel, mas aperta as regras. As economias de custos começam a gerar benefício líquido no AF27. ROTE ~10-11% com gestão conservadora de capital.
Cenário OtimistaRemediação rápida. A APRA libera o adicional de capital no início do AF27. A redução de custos entrega mais rápido. Sem impacto do AOFM. ROTE 11,5-12%, recompras são retomadas, ocorre reavaliação.
Cenário PessimistaSanções do AOFM reduzem alocações. Ação coletiva é movida. Remediação falha, a APRA adiciona mais capital/tempo. A receita dos mercados enfraquece. ROTE cai abaixo de 10%, levando a um desconto permanente.
Tese de InvestimentoUma história de controles e supervisão, não de solvência. O alto rendimento de 5-6% oferece suporte. O catalisador de reavaliação exige prova de correções de RNF (rastreabilidade de dados auditáveis) e redução de riscos pela APRA, não apenas corte de custos.
Principais Catalisadores a Observar1. Julgamento e comentários do Tribunal Federal.
2. Entrega do plano de remediação da APRA até 30 de setembro de 2025 e divulgações de KPIs.
3. Comunicação do AOFM sobre os critérios do painel.
4. Execução da reestruturação e trajetória da relação Custo-Receita.

Considerações de investimento: O desempenho passado não garante resultados futuros. Os leitores devem consultar consultores financeiros qualificados para orientação personalizada. A análise acima representa uma avaliação informada com base em dados disponíveis e indicadores econômicos estabelecidos.

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